PETRÓPOLIS NA REPÚBLICA

Com a Proclamação da República em 1889 que resultou no banimento e o exílio da Família Imperial.....

Com a Proclamação da República em 1889 que resultou no banimento e o exílio da Família Imperial, temia-se que a cidade fosse ameaçada por retaliações republicanas e perdesse o seu prestígio. Mas isso não aconteceu. As funções administrativas passaram a ser exercidas por intendentes nomeados pelo governador do estado até 1892, quando Petrópolis passou a ser governada pela sua Câmara, situação que perdurou até 1916, quando foi criada a Prefeitura Municipal, tendo Oswaldo Cruz como seu primeiro prefeito, nomeado por Nilo Peçanha.(11, p.34) Internamente, tentando se alinhar com as novas idéias e apagar as lembranças da Monarquia, os políticos começaram a mudar os nomes das ruas, substituindo os antigos nomes imperiais pelos seus novos valores:

Rua do Imperador...........Av. 15 de novembro
Rua da Imperatriz...........Av. 7 de setembro
Rua Princesa Isabel.......Rua 13 de maio
Rua de Bourbon.............Rua João Pessoa, depois Nelson de Sá Earp.
Rua de Joinville..............Rua Ipiranga
Rua Da. Francisca.........Rua Gen. Osório

Significativos para a cidade foram os oito anos em que ela se transformou na capital do Estado do Rio de Janeiro. Em 1893, ocorreu a Revolta Armada em Niterói contra o governo do Marechal Floriano Peixoto e foram cortadas todas as comunicações entre o Rio de Janeiro e Niterói. Com a capital do estado ameaçada, o governo foi transferido de Niterói para Petrópolis, em 1894. José Tomás Porciúncula era o governador e o retorno só aconteceu em 1902. O município tinha 29.000 habitantes e até 35.000 no verão, já estava recebendo energia elétrica e duas surpreendentes modernidades ocorreram em 1896: bondes elétricos passaram a circular na cidade e aí ficaram até 1939; o primeiro automóvel subiu a serra, um “Decauville”, em 1902, movido a benzina e não tinha silencioso.

Quando Petrópolis deixou de ser capital do Estado, pensou-se novamente que a cidade perderia seu prestígio e ficaria esquecida. Ao contrário, por muitos anos, o desenvolvimento foi mantido, ao lado da sua vocação turística. Quando surgia uma epidemia de febre amarela no Rio de Janeiro muitas pessoas se mudavam para Petrópolis, que estava livre desses males pela salubridade do clima.

Os republicanos também se renderam aos encantos da Serra da Estrela. De 1894 a 1903, o Ministério das Relações Exteriores praticamente funcionou em Petrópolis, decidindo questões vitais como a assinatura do Tratado de Petrópolis, que anexou o Acre à Federação.

Nos anos seguintes, com exceção de Floriano Peixoto, Delfim Moreira e Castello Branco, todos os presidentes da República, desde Deodoro da Fonseca até Costa e Silva, veranearam em Petrópolis. A cidade que antes se transformava em capital do Império, agora se tornava capital da República com presença de expressivas personalidades como Barão do Rio Branco, Joaquim Nabuco, Santos Dumont, Conde Afonso Celso, Hermes da Fonseca e sua mulher Nair de Teffé, Pandiá Calógeras, Henrique Lage, Ruy Barbosa, Joaquim Murtinho, Stefan Sweig, Edson Passos, Eugênio Gudin e tantas outras. Ficou preservado o seu ambiente culto, aristocrático e refinado. Durante o verão, no início da noite, a estação ferroviária se transformava num “point” social, repleta com as famílias esperando a chegada do “trem dos maridos”. Com eles vinham também as notícias do dia. (1, p.53)

Epitácio Pessoa, em 1920, construiu o prédio do I° Batalhão de Caçadores, trazendo para a cidade a tropa do Exército, hoje 32°Batalhão de Infantaria, uma das tradições petropolitanas. Em 1922, ele construiu o belo prédio dos Correios em arquitetura neoclássica. Em 1928, foi construída a primeira rodovia asfaltada do país que ligava o Rio a Petrópolis, que recebeu o nome de Washington Luiz, uma homenagem ao presidente que teve essa importante iniciativa para a vida da cidade.

Talvez Getúlio Vargas tenha sido o presidente que mais se aproximou e se interessou por Petrópolis. Até hoje, muitos ainda se lembram dele caminhando pelas ruas da cidade, com as mãos cruzadas nas costas. O Museu Imperial e o Mausoléu dos Imperadores devem a ele a sua existência. Getúlio Vargas em Petrópolis, na visão de José Luiz Alquéres, de certa forma, repete a época imperial, pela concentração e continuidade do poder central durante o Estado Novo, pela afetividade do povo petropolitano com a família Vargas e pelo trânsito político que beneficiou seus parentes, como a filha Alzira - qual uma nova princesa Isabel, sua mulher Darcy e seus aparentados Amaral Peixoto, João Goulart, Celina e Moreira Franco. Tudo isso contribui para dar a Getúlio uma aura só superada pelo velho imperador, com o qual, inconscientemente ou não, procurou se identificar. (10, p.37)

Essa nova “corte imperial” mudou a cidade. O suntuoso Hotel-Cassino Quitandinha, aberto em 1944, se tornou conhecido em todo o país e atraiu o jet-set internacional para Petrópolis. Orson Welles, Errol Flynn e outros, nele se hospedaram. Com a proibição legal do jogo em 1946, o hotel perdeu o esplendor, mas até hoje seu prédio, conhecido como Palácio Quitandinha é atração na cidade.

Depois da década de 50, mudanças sociais e tecnológicas como a explosão demográfica, a limitação dos espaços urbanos, o início do processo de industrialização do país, com as intensas migrações internas de populações marginalizadas, a cidade se viu envolvida em um processo político populista que a descaracterizou e permitiu que diversas áreas, inclusive as encostas dos morros, fossem ocupadas de modo inadequado. Como conseqüência, ocorreu um violento crescimento da população sem um planejamento urbano e paisagístico que permitisse a manutenção das condições anteriores da cidade, o que modificou em profundidade o ambiente, a sua aparência e a qualidade de vida da população.

A mudança da capital federal para Brasília em 1961 é uma data significativa para Petrópolis. A modernidade inevitável e, nos últimos anos, a reestruturação da economia mundial com a globalização impuseram a Petrópolis a condição de subunidade do Grande Rio, deixando-a sem vida própria, crescendo sempre o caráter suburbano de seus moradores, que passam a dividir com outros locais o seu modo de vida. Em conseqüência, nos últimos anos, implacável e impiedosamente, lojas e serviços de antiga tradição na cidade encerraram sua atividade. Alfaiataria De Carolis, Confeitaria Copacabana, Casa Galo, Ótica Haack, Casa Duriez, Sapataria Schettini, Padaria Alemã e das Famílias e tantas outras, são saudosas lembranças para os petropolitanos. Esses comércios foram sufocados pela dominação abusiva do mercado por redes nacionais de lojas de varejo que se instalaram em Petrópolis. Isso evidentemente, mudou a identidade social e cultural da cidade.

História de Petrópolis

Autor: Antônio Eugênio Taulois
Universidade Católica de Petrópolis
Instituto Histórico de Petrópolis
Fevereiro de 2007

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