ALEMÃES DERRUBAM 22 MILHÕES DE PINHEIROS PARA ENFEITAR O NATAL SEM AMEAÇAR A ESPÉCIE
22 milhões de pinheiros verdadeiros são abatidos todos os anos para enfeitar o Natal na Alemanha, mas sem agredir o meio ambiente. (Programa A Alemanha e a Música do dia 18 de dezembro de 2016)
Em uma conversa doméstica a Beth Graebner, produtora do programa, ela me perguntou se o costume dos alemães em utilizar majoritariamente pinheiros de verdade para usar como árvore de Natal não ameaçava a espécie de extinção. Eu nada sabia sobre o tema e fui então pesquisar e com os registros encontrados trouxe para os ouvintes o que pude apurar sobre o assunto.
Todos os anos, cerca de 22 milhões de árvores de Natal enfeitam as residências alemãs. Na maioria dos casos são pinheiros naturais de vários tipos, formatos e tamanhos. Sempre decorados com velas de cera ou modernas correntes de luzinhas elétricas, além de bolas coloridas de vidro fino espelhado e enfeites de todos os tipos. Mas esses pinheiros são abatidos de florestas certificadas, de manejo, ou seja, são pinheiros cultivados especificamente para fins comerciais, não ameaçando a extinção dos pinheiros na Alemanha.
Para os alemães, independentemente da religiosidade de cada um, a árvore de Natal é um símbolo de paz, tranqüilidade e introspecção. Quando se pergunta às pessoas sobre o motivo de tal ligação com o pinheiro natalino, a resposta é quase sempre a mesma: o Natal é uma festa das crianças. E dela faz parte a árvore, que alegra as crianças. Para os adultos, o pinheiro enfeitado suscita ternas recordações da infância…
Existem muitas histórias para explicar a tradição secular da árvore de Natal. Uma delas diz respeito à festa de Santa Bárbara, comemorada no dia 8 de dezembro. Era uma antiga tradição cristã cortar galhos de macieira ou cerejeira nessa data, para que florescessem antes do tempo como enfeite dentro das casas aquecidas. Posteriormente, o pinheiro enfeitado teria assumido o lugar dos galhos com flores de maçã e de cereja.
A etnóloga Christel Köhle-Hetzinger, da Universidade de Jena, conhece toda uma série de histórias que tentam explicar a origem da tradição medieval: "Sabe-se também que árvores verdes eram postas nas igrejas na época de Natal. Era, sem dúvida, uma alusão à árvore do paraíso, que desempenha um papel próprio em toda a liturgia cristã. Ou seja, uma árvore cristã da vida. Como na história de Adão e Eva. Hoje, nós acreditamos que a árvore é o ponto central do Natal cristão. Mas não é bem assim. Ao pé da letra, esse papel caberia ao presépio com o Menino Jesus. A árvore de Natal é na verdade um produto e um objeto leigo."
No início, a Igreja refutou inteiramente a tradição de origem pagã. Somente há cerca de 100 anos é que o pinheiro natalino passou a enfeitar também os templos cristãos. Até então, ele estava mais ligado a costumes dos povos germânicos, anteriores à cristianização: no inverno, eles penduravam galhos de pinheiro sobre as portas das casas, no estábulo e nos tetos das moradias.
Com suas folhas em forma de agulha, o pinheiro devia espantar maus espíritos, raios e doenças. Além disso, o verde dos ramos simbolizava então a expectativa em relação à chegada da primavera e ao fim do inverno.
Na Idade Média, árvores enfeitadas faziam parte de todas as grandes festas – por exemplo, das festas da cumeeira. A origem dos pinheiros natalinos também pode ser atribuída a tal costume. Sua primeira menção data de documentos do ano de 1419.
O surgimento da ferrovia também contribuiu para consolidar a tradição da árvore de Natal: através da nova possibilidade de transporte, os pinheiros puderam ser levados em grande quantidade para as grandes cidades. Com isto, o costume passou a ser também uma tradição urbana. Na ocasião eles eram extraídos livremente das florestas, ameaçando-os de extinção.
Foram os agricultores da região do Harz e da Turíngia que iniciaram tal processo: eles passaram a plantar pinheiros especialmente para a venda nas feiras de Natal em Berlim. A partir de 1851, os jornais berlinenses ofereceram um novo serviço a seus leitores, anunciando a chegada de novas partidas de árvores de Natal nas estações ferroviárias da cidade.
Antes do final do século 19, os pinheiros de Natal já tinham conquistado definitivamente o seu lugar nas residências alemãs, sem serem ameaçados de extinção. Eram plantados especialmente para o corte durante as festas natalinas. Só então é que a Igreja cedeu à realidade e passou a adotar o costume também nas suas festas natalinas.
Hoje, a decoração da árvore de Natal varia de ano para ano, estando submetida a um verdadeiro ditado de moda. Mas raramente uma família alemã abre mão de um pinheiro natural na sala de visitas: sem ele, o espírito do Natal não é o mesmo…
Portanto, há portanto 166 anos os alemães utilizam o sistema de manjo florestal, do plantio em áreas específicas para corte dos pinheiros , a fim de garantir a presença dos pinheiros in natura nas casas , igrejas e no comércio da Alemanha, sem destruir suas florestas. Um excelente exemplo de consciência ambiental.
(Marcos Carneiro-15 de dezembro de 2016-Fonte de pesquisa: Reportagens da Deutch Welle-DW sobre o assunto e outros sites da internet).