HISTÓRIAS DA NOSSA HISTÓRIA

Ao conversar com pessoas idosas, sempre me faço a seguinte pergunta: Quem vai continuar contando essas histórias? A resposta é triste mas muito simples: NINGUÉM! Pelo menos na maioria dos casos. E então me lembro de muitas histórias que minha mãe contava durante nossas refeições quando éramos crianças. Histórias que ela tinha ouvido  de alguém ou vivido pessoalmente. Eu continuo contando essas histórias para meus filhos e para meus netos, mas ao longo das gerações, o contato entre as pessoas diminui. Já não tenho mais a oportunidade de estar com meus netos no dia a dia. E com meus bisnetos será menos ainda. Por isso resolvi escrever as minhas e muitas outras histórias que me foram contadas por amigos e ouvintes do programa. Aqui temos apenas algumas delas. As minhas, quem sabe um dia???

OS BAILES DE ANTIGAMENTE - Por Clara Stumpf Pitzer
OS BAILES DE ANTIGAMENTE - Por Clara Stumpf Pitzer (1992)
Como contaram nossos antepassados, no começo do século, os bailes eram muito diferentes dos de hoje. Havia no Bingen, dois salões de danças: o do Sr. Pedro Winter, atual Clube Centenário e o do Sr. Carlos Loos, atual Light. Os bailes tinham início às 8 horas da noite à luz de lampiões. As danças eram controladas, ou seja, uma valsa, uma polca, uma mazurca, uma rancheira e um chotte. Havia também os intervalos, pois os músicos daquela época também se cansavam. Á meia-noite era a vez da quadrilha, aquela dança toda enrolada, onde se troca de pares. Porém, não havia perigo: a quadrilha estava sempre desarmada! Também nas festas de casamento que eram realizadas na casa do noivo ou da noiva, era comum todas estas danças.
Havia, também o Esporte Clube Rosário, com seu campo no início da rua João Xavier e com sua sede após a primeira curva da rua Duarte da Silveira, onde hoje é uma moradia. Ali eram realizados animados bailes com um ótimo conjunto do bairro.
Na década de 30, surgiram o samba, o bolero, a marcha e o baião, porém a valsa continuou firme. Nunca perdeu o seu se encanto !
Nos anos 50, foi construído o prédio do salão do Bingen Futebol Clube, que funcionava em cima de onde hoje é o Supermini. Só mais tarde foi construído o prédio onde o Clube funciona atualmente.
Os cavalheiros usavam paletó e gravata e as moças usavam a vestidos lindos e descentes. Os diretores dos Clubes eram chefes de família e a fiscalização nos bailes era rigorosa. Nesta época lá havia também o Esporte Clube Magnólia, muito respeitado e bastante frequentado. Com o passar dos anos, tudo foi se modificando. Os pares já não sentem o calor um do outro: Dançam separados, pulando em frente um do outro, parecendo mais uma briga de galos numa e rinha. Os vestidos bonitos, os paletós e as gravatas "já eram"! Estão fora de moda. É o progresso! Mas, apesar disso, ainda existem bons clubes, com forrós e boas danças. Citamos também, os jantares dançantes organizados em várias comunidades, com os pares dançando junto e sentindo o calor da música e os ritmos bonitos das danças e que podem ser frequentados pelas famílias com tranquilidade.
O LIXO DE ANTIGAMENTE – Por Clara Stumpf Pitzer
Há alguns anos atrás, o lixo das casas e estabelecimentos comerciais, só era recolhido no centro da cidade. Nos quarteirões, uma boa parte dele servia de adubo. Varriam-se as casas, os quintais e todo esse lixo era jogado na grota atrás das casas, onde se plantava inhame, que crescia com uma folhagem muito bonita, que era cozida em tachos para depois servir de alimento aos porcos.
As folhas varridas dos quintais eram juntadas nas fruteiras e também viravam adubo. Já as cascas de legumes e restos de comida eram guardadas em latões para servir de comida aos porcos. O esterco das vacas era amontoado longe das casas e em seguida era levado em carroças puxadas por um animal para o morro e espalhado sobre o capim recém-cortado, que depois crescia vistoso.
Outros tipos de lixo, como a palha, que às vezes sobrava nas cocheiras, papéis e trapos velhos, podiam ser queimados em fogueiras, pois as casas eram bem distantes umas das outras, de maneira que a fumaça não incomodava o vizinho. Materiais feitos de plástico não existiam e os enlatados eram muito poucos. A cerveja só existia em garrafas, cujos cascos eram trocados na hora da nova compra. As outras garrafas e vidros eram vendidos aos garrafeiros.
Atualmente, como não temos mais grotas de inhame para jogar o lixo, nem tampouco criação de porcos, devemos agradecer aos garis, que recolhem o lixo em nosso bairro 3 vezes por semana. De dia, de noite, de madrugada... não importa! O importante é mantermos a limpeza em nossos lares e da nossa cidade.
Devemos valorizar o trabalho dos garis, pois sem eles, o que faríamos com o nosso lixo?
OS ANJINHOS DO PASSADO E AS VOVÓS DO PRESENTE - Por Clara Stumpf Pitzer
OS ANJINHOS DO PASSADO E AS VOVÓS DO PRESENTE - Por Clara Stumpf Pitzer (1998)
Quando vejo estes jovens ao redor do altar, que se dedicam ao serviço da igreja, meu pensamento se volta ao passado. Lembro-me dos meus anjinhos quando eu, com outras pessoas, os preparava para a coroação de Nossa Senhora, nos idos anos 40 e 50. Hoje já são vovós, muitos já faleceram e se encontram junto de Maria Santíssima. A nossa amiga Gloria Monsores, quando ainda jovem, representando Maria numa encenação do Natal, ao entrar em cena recebeu os parabéns do Frei Mathias, que lhe disse: "espero que sempre sejas uma Maria". E até hoje é fiel, sempre presente nas comemorações da nossa Capela.
Também os meus anjinhos Maria Clara e Heloísa, que continuam se dedicando ao serviço da igreja desde a infância, e receberam esta sublime missão de serem Ministras da Eucaristia. Estes são exemplos dos pais que levam os seus filhos à igreja desde a infância, mesmo batendo os pezinhos no banco, ao olhar o que se passa ao seu redor, eles vão se acostumando, e quando tiverem noção, eles entenderão que ir à missa é um dever de todos.
Por dezoito anos, com muito amor, dediquei- me a este serviço e trago na memória e no coração, aqueles anjinhos que hoje trazem os seus netinhos para coroar a nossa Mãe do do Céu, e também aqueles que hoje não se encontram mais entre nós, como Leônia D. de Oliveira, Maria Lucia Carneiro, Célia Kreischer, Márcia Kreischer, Ivete Justen e Claudia Pitzer.
Que estejam na paz de Cristo!
Parabéns aos anjinhos de hoje. Espero que daqui alguns anos, tragam suas filhinhas e netas para esta linda celebração que se repete todos os anos...
OS CANTORES DO ANO NOVO - Por Silvio Stumpf
OS CANTORES DO ANO NOVO - Por Silvio Stumpf
As mensagens otimistas de esperança e confiança são sempre as que nos movem a prosseguir, com entusiasmo, a nossa caminhada na vida, que nem sempre é feita em estrada segura e perfeita.
Houve uma época em que era praticado no Bingen e até em alguns bairros vizinhos; um interessante costume de se anunciar, com otimismo, combinado com acentuado romantismo, mensagens positivas a todos os seus moradores. Portadoras das mais alegres e nobres virtudes, eram anunciadas, principalmente, no ensejo da passagem de ano, por grupos folclóricos denominados de Cantores do Ano Novo".
Costume, provavelmente, trazido pelos primeiros alemães colonizadores de Petrópolis, implantou-se, com sucesso naquela época, em nosso bairro. Desenvolvendo-se foi projetado ao longo dos anos até a geração atual onde, infelizmente, parece ter encontrado obstáculos intransponíveis. No presente, os únicos vestígios que restam de tão animado costume, são, apenas, algumas fotografias da época e as saudosas lembranças guardadas carinhosa- mente nos arquivos da nossa memória e do nosso coração.
A mentalidade de modernização, o desprezo às antigas tradições até há pouco preservadas e, principalmente, o crescente estado de acomodação das pessoas em geral, em face da rapidez e facilidade com que são encontrados já prontos para o consumo de todo o tipo de passatempos, programas, ou diversões, onde a TV, jogos de vídeo-game e cinema são os maiores fornecedores, foram, talvez, os principais fatores que contribuíram para o abandono e, subsequente esquecimento de sadios e tradicionais costumes.
Durante alguns anos participei, como acordeonista, de um grupo de cantores. Lembro-me, ainda, com saudades, da alegria com que os visitados nos recebiam em suas casas.
Após as visitas, que se iniciavam por volta de 21 ou 22:00 h do dia 31 de dezembro, estendendo-se por toda a madrugada do dia 1º de janeiro, findando-se ao raiar do dia, o grupo costumeiramente se dirigia a Capela de Nossa Senhora Auxiliadora onde participava da missa das 7:00h, entoando os mesmos cânticos sacros apresentados nas casas. Certamente, o costume de visitar, também, a casa de Deus, iniciou-se a partir do ano de 1901, ocasião em que foi inaugurada a Capela do Bingen.
O grupo de cantores, com número indeterminado, variando entre 10 a 20 homens, usava traje comum. O chapéu, porém, era de palha, com a aba levantada à "Lampião", onde eram colocadas uma fita e uma flor. O grupo de cantores geralmente iniciava a cerimônia e a cada casa, da seguinte forma:
Primeiramente chamavam pelo dono da casa, que deveria responder logo que ouvisse o chamado, mesmo se estivesse deitado. Certos de que o chefe da casa estava presente e acordado, alguém do grupo iniciava uma bela saudação alusiva àquele momento e, que era quase sempre encontrada no Kalender für Deusche in Brazilien", ou, calendário para alemães no Brasil.
No término da saudação, todas as pistolas ou garruchas eram imediatamente disparadas. As pistolas e as garruchas usadas no Ano Novo, eram construídas e usadas unicamente para esse fim, pois, não havia ainda, os atuais fogos de estampido. Eram carregadas pelo cano com pólvora preta, (de fortíssimo estrondo) e sem balas. Cada componente do grupo usava e disparava a sua arma. Com um número entre 10 a a 20 homens usando uma arma, podemos imaginar o ruído produzido em frente as casas.
No auge dos ensurdecedores estampidos, ouviam-se, então, os primeiros acordes da harmónica de 9 baixos, ou a chamada "Handharmonika", (harmonica de mào), executados por um componente do grupo.
Neste momento, o dono da casa, já muito bem acordado, abria a porta e, com um alegre “Guten Morgen im Neujahr", acolhia-os todos, um por um, em sua casa. Eram, então, entoadas algumas canções, próprias daquela época e evento, entre elas a conhecida "Grüss Gott euch ihr Leute", cantada em português com a seguinte letra:- "Abençoa, o Deus amado; abençoa este lar/Que possamos todos juntos e felizes festejar". Esta canção, atualmente ainda a executo ao órgão, na Capela, nesta ocasião festiva Enquanto as pessoas da casa preparavam uma refeição, os cantores aproveitavam o tempo para recarregar as suas armas que seriam disparadas na casa seguinte. Eram, então, servidos, vinhos, cerveja, pão alemão, linguiças, carnes e queijos de porco; cucas de diversos sabores, aos cantores. É bom lembrar que esta refeição era servida em todas as casas visitadas pelos cantores, em apenas uma só noite.
Após a refeição, despediam se das pessoas da casa, agradecendo-lhes pela acolhida e desejando a todos um venturoso Ano Novo. Dirigiam-se a outra casa, repetindo lá, a mesma cerimônia anterior e, assim, sucessivamente até a última casa, quando, então, já se preparavam para a missa das 7:00h na Capela.
Fatos pitorescos ocorriam frequentemente no desenrolar dessa quase solene, mas também divertidíssima cerimônia, tornando-os, por isso, não só dignos, mas, acima de tudo, obrigatórios de serem mencionados.
Antes, porém, deve-se explicar o modo pelo qual os cantores, normalmente, recarregavam suas pistolas, pois alguns fatos relacionam-se diretamente a eles.
Colocava-se, inicialmente, uma pequena quantidade de pólvora no interior do cano da pistola que era logo tampado com papel, para se ter uma boa compressão e uma forte explosão da pólvora, como para se evitar o seu derramamento, pois, logo em seguida colocava-se a pistola com o cano virado para baixo onde, era introduzida a extremidade de uma vareta, pequena haste de madeira ou ferro, - enquanto que a outra extremidade ficava apoiada firmemente no assoalho da sala (cômodo da casa onde geralmente, permaneciam os cantores). A pistola era, então, forçada diversas vezes contra a vareta que comprimia a pólvora.
Somente após essa operação um tanto perigosa, é que deveria ser colocada a espoleta (dispositivo que, acionado, provocava a explosão da pólvora.
Enquanto isso, à medida em que as garrafas de cerveja e os litros de vinho eram esvaziados, uma proporção inversa ocorreria, ao mesmo tempo, nos canos das pistolas, ou seja, a quantidade de pólvora era gradativamente aumentada, por "descuido" provocado pela bebida sem que fosse percebido.
Conta-se que, carta vez, ao recarregar a sua pistola, um cantor, um tanto eufórico, "descuidou-se" e colocou antecipadamente a espoleta na pistola. Ao comprimir a pólvora com uma vareta de ferro, o gatilho foi acidentalmente disparado, provocando uma explosão dentro da sala e, projetando a vareta (de ferro) contra o assoalho com mais de 3 cm. de espessura, transpassando-o inteira- mente.
Noutra ocasião, após o encerramento, um cantor, já em sua casa, recarregou a sua arma, deixando, porém, de propósito, a vareta dentro do cano e, disparando-a para o ar, projetando a vareta a uma distância de quase 200 metros.
Testemunhei, numa casa, uma saudação, um tanto estranha e inédita; quando um cantor alegremente se dirigia ao dono da casa para cumprimentá-lo, tropeçou na soleira da porta. Ao invés de ouvir um Feliz Ano Novo, surpreso, o dono da casa sentir-se, primeiramente, na obrigação de abraçar-se ao cantor (mesmo sem o desejar) para que não caísse ao chão, enquanto que ouvia dele (cantor), um outro tipo de saudação, que a censura não permite divulgá-la aqui. A cena, foi, sem dúvida, uma das mais divertidas, assistidas por todos os cantores em todos os tempos.
Na ocasião da passagem de 71/72, o mesmo cantor ao dizer: "Feliz setenta e dois", enganou-se e disse: "Feliz setenta e Deus". Foi alvo, novamente, de brincadeiras. E assim, se apresentando anualmente, durante varia décadas, (talvez até por mais de um século), este costume tão divertido chegou à nossa geração transmitindo-nos os sentimentos otimistas e a formação cultural dos nossos queridos antepassados, folclore tradicional que se tornou uma das maiores e mais preciosas riquezas culturais do nosso bairro do Bingen.
OS CASAMENTOS DE OUTRORA - Por Clara Stumpf Pitzer
OS CASAMENTOS DE OUTRORA - Por Clara Stumpf Pitzer
Antigamente os casamentos eram diferentes. O que me lembro é daquilo que acontecia de 1916 cm diante. Todas as famílias do bairro eram convidadas para a festa, o pois eram todos parentes e conhecidos. Quase todos acompanhavam os noivos para a igreja (no caso dos católicos, a Catedral; e no dos protestantes, a Igreja Luterana), para onde iam com carros puxados por cavalos (charretes). Tais charretes formavam, às vezes, uma fila de 15 a 20 carros.
Os noivos, geralmente, eram do mesmo bairro. Se os rapazes ousassem namorar em outro bairro, arriscavam-se a diversos perigos: trotes, "corridas" de limão (ou de chuchu) e tinham que correr muito, pois estavam quase sempre à pé, não havia condução como hoje.
Os bairros, Bingen e Mosela eram dois tremendos rivais neste sentido.
Quando os noivos voltavam da igreja, encontravam no bairro alguns obstáculos: a rapaziada colocava vários arcos de bambus enfeitados com ramos de flores, sobre a rua. Esticavam uma corda que fechava a passagem. O padrinho dos noivos, já prevenido, resolvia o problema com alguns trocados (tostões). A corda era retirada, ao mesmo tempo em que era oferecido à noiva, um ramalhete de flores.
A festa iniciava-se logo que os noivos chegavam a casa dos pais de um deles (local da festa, geralmente, a residência dos noivos a partir de então). Era ser- vido café (ou leite), com cucas de diversos sabores, biscoitos, brevidade, pão alemão, cerveja, vinhos, sanduíches de carne de porco, tudo feito em casa com a ajuda dos vizinhos (inclusive as cervejas e os vinhos).
A festa era animada por um ou dois sanfoneiros. Iluminada com a luz de velas e lampiões, estendia-se até a madrugada. Meia-noite, a madrinha retirava o véu da noiva e colocava-lhe uma touca. Antes de tirar o véu, porém, as mocinhas faziam um "discurso sobre os noivos e os convidados Isto é, saudavam-nos com alguns versos.
No começo, tais versos eram sempre em alemão, alguns anos depois já se falava alguns versas cm português como estes: “Neste dia tão feliz Dia da santa união, Aceitem os parabéns De sua amiga que vos estima de coração” ou “Ofereço estas flores Como prova de amizade, E peço a Deus que os abençoe E lhes dê a felicidade”. O padrinho, por sua vez, retirava um raminho de flores do paletó do noivo e oferecia-lhe um cachimbo. Depois, os noivos, ela de touca e ele de cachimbo dançavam uma valsa e a partir de então, não eram mais considerados jovens noivos, mas sim entrando para o mundo dos adultos como marido e mulher.
Havia duas festas: a primeira, realizada no dia do casamento, com todos os petiscos e belas diversões; a segunda, no sábado seguinte, ou seja, uma semana após a primeira, quando os convidados traziam os presentes. A dança e as diversões continuavam, também, nesta festa. Logo após a primeira festa os noivos se retiravam para os seus aposentos, pois, não havia viagens de núpcias.
A partir de, aproximadamente, 1925, as velas e lampiões foram substituídos pela luz elétrica. As festas, então, já eram animadas, também pelo saudoso Jaci Guarani, com o seu aparelho de som e suas "chapas" (como eram chamados, então, os discos).
OS FUNERAIS DE ANTIGAMENTE - Por Clara Stumpf Pitzer
OS FUNERAIS DE ANTIGAMENTE - por Clara Stumpf Pitzer
Antigamente, os doentes eram tratados em suas casas. Nos casos menos graves, o paciente era levado ao consultório do médico na cidade, num Tilburi, espécie de charrete puxada por um animal de dois lugares, um para o freguês e outro para o cocheiro, também muito usado para trazer o médico em casa. Nos casos mais graves também era solicitada a presença de um padre, para dar a extrema unção ao enfermo. As pessoas da família ficavam junto ao leito do paciente, rezando até o momento final.
Atualmente os doentes são levados de ambulância ao hospital, e ficam aos cuidados de nossos dedicados médicos e enfermeiros, que mesmo sabendo que não há mais esperança de cura, se dedicam e lutam até o momento final. Eles merecem a nossa consideração.
Naquela época, não haviam funerárias, os falecidos eram velados em casa e em seguida levados em pesadas urnas, com grande acompanhamento a pé até o cemitério. O padre também acompanhava e todos iam rezando durante o trajeto. Em caso de criança as meninas levavam o caixãozinho. Em caso de adulto eram os homens que iam se revezando. Muitas vezes o trajeto era de uma a duas horas. Havia no cemitério, junto à capela, um sino e ao entrar o cortejo no portão, este era acionado por um funcionário, até que o cortejo se distanciasse. Isso nos causava grande comoção. Ainda trago na memória o som das badaladas daquele sino, que pareciam dizer; vem, vem amigo, seja bem-vindo!"
Aproximadamente na década de 50, surgiram as agências funerárias, que resolvem tudo para as famílias enlutadas. Antes de 1920 só existiam dois cemitérios. O portão principal, onde fica a capela Atrás da capela ficava o necrotério e seguia uma passagem que alcançava a rua, e se estende até o cemitério velho, como é mais conhecido, e onde mais adiante se encontrava os fundos do Hospital Santa Tereza. Toda extensão ao lado esquerdo do cemitério principal, do início ao fim, era terreno baldio, inclusive onde se localiza o atual necrotério. Aproximadamente na década de 20 surgiram as primeiras sepulturas, na área do lado esquerdo, onde atualmente existem centenas de sepulturas. Lá também se encontram nossos antepassados, entes queridos e amigos. Só restam saudades. E choramos todas as lágrimas. Mas o que Deus levou, só a Ele pertence, e jamais nos serão devolvidos. Ninguém quer aceitar mas, esse é o nosso destino. A saudade é uma doença incurável, que aos poucos vai nos consumindo.
Outubro de 1995
OS NATAIS NO BINGEN ANTIGO - por Clara Stumpf Pitzer
OS NATAIS NO BINGEN ANTIGO - por Clara Stumpf Pitzer
Os Natais de 1915, (quando comecei a ter noção), até aproximadamente 1925, eram diferentes do tempo atual. Não havia luz elétrica, só a iluminação de lampiões e velas. As famílias tinham suas casas modestas e muitas delas eram pobres, com muitos filhos, não havendo condições de se dar presentes caros para as crianças. Como muitos homens tinham noções de carpintaria, carrinhos de mão, bercinhos para as bonecas e outros brinquedos mais eram feitos em casa. Para as meninas só eram comprados bonecas, loucinhas e fogõezinhos com panelinhas, e para os meninos, gaitas de boca e espingardas pequenas que tinham uma rolha presa por uma cordinha com as quais eles faziam tiro ao alvo ou matavam moscas. (Atualmente as crianças escolhem seus presentes, que são importados, bonecas que andam, choram, soldadinhos que se movem, naves espaciais, vídeo games e outros mais. Custe o que custar, os pais que se virem.)
Mesmo as famílias mais pobres eram ajudadas pelas demais e não faltava em suas casas a Árvore de Natal, que era, de preferência, o pinheirinho (Tannenbaum), com muitos enfeites, bolas e velinhas coloridas que brilhavam na sala escura, à luz do lampião, onde reinava muita alegria com a família reunida a cantar os cânticos do Natal. Nesta hora entrava o "Nicolaus", que era sempre alguém da família disfarçado e que ficava tocando o sininho para anunciar sua chegada.
Quando ele entrava na sala, as crianças ficavam tremendo de medo e se escondiam nos cantinhos, pois ele era bravo; ai de quem não tivesse obedecido à mamãe! Levava umas boas varadas. Depois de muitos anos, 5 "Nicolaus" trocou de nome e virou Papai Noel, que é mansinho e não usa mais a vara, hoje as crianças sentam no seu colo e recebem balas. Lá fora na noite escura, só brilhava a luz dos vagalumes que faziam o pisca-pisca. Hoje a iluminação é elétrica, enfeitando as cidades e as casas, tendo os vagalumes perdido sua vez de piscar.
O mais importante dessa noite, no entanto, é que depois de quatro semanas de espera, chamado "Tempo do Advento", simbolizado nas igrejas por uma coroa com quatro velas, comemora-se o nascimento do Nosso Salvador, com uma festiva Missa de Natal. Mesmo professando a fé católica, sempre mantive laços com a Igreja Luterana, onde tenho parentes e amigos, e já há alguns anos é realizado por eles o "Café do Advento", no salão da igreja, no primeiro domingo do advento. Todas as mesas tem toalhas de renda branca, enfeitadas com arranjos e velinhas de cera colorida acesas onde é servido café, leite, chá, bolos, cucas e salgadinhos ofertados pela comunidade e seus convidados. No início de dezembro do ano passado participei desta confraternização. Contudo, o mais importante desta celebração são o culto e as lindas canções natalinas entoadas pelas crianças e pelo coral da igreja, que fez uma apresentação belíssima. Muito bonita e valiosa também, foi a mensagem do Pastor Hartmut falando sobre o significado do advento e da coroa de quatro velas, palavras que nos atingiram direto a alma. Lá sentimos o verdadeiro espírito do Natal.
"Que o Menino Deus traga muita paz para a Terra neste Natal e no ano que se aproxima. Para todos, desejo um Feliz e Santo Natal."
OS SACERDOTES do BINGEN - Por Clara Stumpf Pitzer
OS SACERDOTES do BINGEN - Por Clara Stumpf Pitzer
ANTIGAMENTE, NO FINAL DA RUA DARMSTADT, HAVIA UMA CASA QUE PERTENCEU A FAMÍLIA MAYER, QUE FI FOI DEMOLIDA DANDO LUGAR A UM CASARÃO PARA ONDE VIERAM MORAR ALGUMAS FREIRAS DO ASILO DO AMPARO. COM ELAS, VIERAM TAMBÉM ALGUMAS MENINAS ORFĀS, ISTO POR VOLTA DE 1920.
ESTAS IRMĀS, DAVAM AULAS PARA CRIANÇAS DO BAIRRO E TAMBÉM ENSINAVAM CATEQUESE E, POR ISSO, O CASARÃO FICOU CONHECIDO COMO COLÉGIO DO ASILO. HAVIA TAMBÉM NO CASARÃO UMA PEQUENA CAPELA ONDE, AOS DOMINGOS, ERA CELEBRADA MISSA AS 07:00 HORAS DA MANHÃ E, MUITÁS VEZES HOUVE PRIMEIRA COMUNHÃO DAS CRIANÇAS QUE AS FREIRAS PREPARAVAM.
ESTAS IRMĀS, FORMARAM UM PEQUENO CORAL DE MENINASE, EM 1925 FIZERAM UMA HOMENAGEM AO FREI CAMILO DA SILVA, QUE CELEBROU SUA PRIMEIRA MISSA NA CAPELA DE NOSSA SENHORA AUXILIADORA.
FREI CAMILO ERA FILHO DE FRANCISCO DA SILVA E SUA MÃE ERA DE FAMÍLIA MAYER QUE MORAVA DO LADO DIREITO DE ONDE HOJE É A QUADRA DE ESPORTES DA UC.P, NUMA CASA QUE HÁ POUCOS ANOS FOI DEMOLIDA.
FREI CAMILO FOI O PRIMEIRO SACERDOTE DO QUARTEIRÃO DARMSTADT E, QUANDO EU TINHA 14 ANOS, EM 1925, TIVE O PRAZER DE PARTICIPAR DESTE CORAL E TRAGO AINDA HOJE NA MEMÓRIA OS VERSOS QUE FORAM CANTADOS EM SUA HOMENAGEM NO PATIO DA CAPELA NOSSA SENHORA AUXILIADORA.
DEPOIS DE ALGUNS ANOS, AS FREIRAS RETORNARAM PARA O ASILO NA CIDADE, INCLUSIVE IRMA MARIA QUE ERA DA FAMÍLIA MAYER. O CASARÃO FOI TRANSFORMADO EM ALGUMAS MORADIAS E FINALMENTE DEMOLIDO. A CACHOEIRA QUE HAVIA AO LADO, COM UMA LINDA QUEDA D'ÁGUA FOI MANILHADA E ATERRADA. HOJE EM DIA, EM SEU LUGAR TEMOS A PISTA DE CORRIDAS DA U.C.P. AGORA EM MARÇO DE 2000, DEPOIS DE 75 ANOS, QUEREMOS HOMENAGEAR COM OS MESMOS VERSOS OUTRO JOVEM QUE NASCEU NO QUARTEIRÃO DARMSTADT, FOI BATIZADO NA IGREJA DO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS, FEZ SUA PRIMEIRA COMUNHÃO NA CAPELA DE NOSSA SENHORA AUXILIADORA. FOI ESTUDANTE DA ESCOLA SANTA MARIA GORRETI E QUANDO OUVIU O CHAMADO DE DEUS RESPONDEU: "AQUI ESTOU", INDO EM SEGUIDA PARA O SEMINÁRIO EM AGUDOS/SP., PARA DEDICAR SUA VIDA A CRISTO E AOS IRMÃOS.
A ESTE JOVEM, DE QUEM MUITO ME ORGULHO, É O FREI LUIZ FRANCISCO KREISCHER, QUE É MEU SOBRINHO-NETO POIS, SUA AVO MATERNA ERA A MINHA IRMÃ. ELE SERÁ O SEGUNDO SACERDOTE DO BAIRRO E, EM BREVE ESPERAMOS ESTAR HOMENAGEANDO TAMBÉM O TERCEIRO QUE É O ESTUDANTE E NOSSO AMIGO EDIOMAR.
QUE DEUS OS AJUDE DERRAMANDO SOBRE ELES SUAS BENÇÃOS, DANDO-LHES SEMPRE SAÚDE É SABEDORIA PARA SUA MISSÃO
OS VERSOS EM HOMEΝΑΘΕΜ AO FREI CAMILO
FLORES MULTICORES, VIEMOS ESPALHAR
HOJE COM PRIMORES PARA VOS FESTEJAR
VIEMOS ALEGRAR-VOS, TODOS COM AMOR QUEREMOS FESTEJAR-VOS, SERVO DO SENHOR
NESTA LINDA DATA VEDE O NOSSO AMOR. SACERDOTE AMADO,SERVO DO SENHOR
HOJE MUITO REZAMOS, PARA VOS A DEUS
MIL BENÇÃOS ROGAMOS ENFIM AOS CÉUS
HOJE MUITO REZAMOS PARA VÓS A DEUS MIL BENÇÃOS ROGAMOS ENFIM AOS CEUS
VITÓRIA AOS QUE LUTAМ, VITÓRIA AOS QUE SABEM ERGUER O ESTANDARTE DO SENHOR
QUE RAIVEM OS MONTES, EM FÚRIAS QUE SABEM QUE AO FILHO DO ETERNO NÃO CAUSAM TERROR
LOUVAI SEMPRE AQUELE QUE É NOSSA ESPERANÇA MENINOS E MOCOS, LOUVEM AO SENHOR QUEM PLANTA NA TERRA,
VIRTUDES ALCANÇAM TRIUNFOS ETERNOS NA PÁTRIA DO AMOR
QUE O MUNDO INSENSATO À NEGRA CORTE NOS MARES SEM NORTE DA LEVANTA ESCARCEU QUE IMPORTA, MANCEBO JESUS É MAIS FORTE
O MUNDO VENCEU
PÃO ALEMÃO - Por Clara Stumpf Pitzer
PÃO ALEMÃO - Por Clara Stumpf Pitzer
Depoimentos de Elisa Müller e Miriam de Fátima Mendes
Antes de sua fabricação em modernas padarias, o preparo do pão - alimento milenar, sofreu diversas transformações. No período neolítico, por exemplo, já era habitual o consumo de grãos de trigo, cevada, centeio e outros cereais triturados com o auxílio de pedras. Mas, foi graças à invenção de fornos de tijolos e das primeiras técnicas de fermentação da massa de pão pelos egípcios, há cerca de 7000 anos, que os métodos de preparo do pão se aperfeiçoaram. Na Alemanha, o produto foi difundido pelos romanos antes da era cristã. Na atualidade ocupa, lado a lado de outros alimentos típicos, um papel de destaque na culinária do pais.
Em Petrópolis, desde a chegada dos imigrantes alemães, em 1845, até os nossos dias, a história da fabricação caseira de pães, também, conheceu saltos decorrentes da evolução nas técnicas de cozimento e de fermentação. Inicialmente, eram usados fornos de tijolos aquecidos à lenha substituídos progressivamente por unidades à gás a partir desse século.
Em relação à fermentação, antigamente não havia a produção industrial de fermento. Assim, antes de se fazer a massa do pão era necessário produzir o fermento de forma artesanal. D. Luísa Mundstein Pereira nos revela um pouco desse antigo segredo e nos fala de uma velha receita de pão alemão, descrita a seguir.
Ingredientes
1 kg farinha de trigo
1 colher sobremesa de sal
2 colheres de açúcar
1 colher banha porco
500 ml água morna.
Modo de fazer;
O primeiro passo no fabrico do fermento consistia em deixar o lúpulo, (planta utilizada na produção de cerveja), de molho em água fervendo durante horas. Depois coava-se e adicionava-se farinha de trigo e açúcar em pequenas quantidades. Formava-se então um bolinho que era polvilhado com fubá. O bolinho permanecia em repouso até crescer. Então estava pronto o fermento.
O próximo passo consistia no preparo do crescente. Colocava-se em uma vasilha, uma xícara de água morna, o bolinho, uma colher de açúcar e uma xícara de trigo. Misturados esses ingredientes, deixava-os descansar por cerca de 20 minutos. Após esse tempo, eram acrescentados os outros ingredientes misturando-os bem. Deixava-se a massa descansar por mais 2 horas e finalmente colocava-se em formas onde permanecia por mais uma hora, até ser levada ao forno. Essa antiga receita, cedeu lugar à novas. Dentre as várias, selecionamos a de D. Carmen Justen Pereira, à seguir:
1 kg trigo
3 ovos
2 xícaras de leite
3 colheres de sopa açúcar
1 colher de café de sal
100 gr manteiga
50 gr fermento Fleischmann
Modo de fazer.
Em uma tigela, misture todos os ingredientes até formar uma massa consistente. Deixe-a descansar por duas horas, A seguir, amasse novamente e coloque-a em uma forma untada com manteiga ou margarina. Deixe em repouso por mais uma hora. Pincele o pão com gema de ovo e leve o ao forno por cerca de uma hora.
No preparo do pão não há monotonia nem repetição. Não raro, três gerações estão presentes alegrando a cozinha com os preparativos do pão alemão. As vozes são ouvidas ao longe a as mais ousadas rompem a tradição e alteram as receitas. A água dá lugar ao leite, a banha de porco é substituída pela manteiga, ou pela margarina, e os ovos integram os ingredientes. É difícil precisar no tempo como se deram as alterações no preparo do pão. As inovações ficam por conta do prazer de saborear uma massa mais leve ou não. O novo passa a ser mais uma forma alemă de se fazer o pão. O erro ou acerto das invenções da culinária são revelados nas variadas ocasiões onde o pão é consumido. Das festes de casamento ao simples café matinal, o pão está presente como um ato social e de união entre gerações.
Carmen Vogel Pereira e D. Luiza Mundstein
RENATO ROCHA PITZER - Por Clara Stumpf Pitzer
RENATO ROCHA PITZER - Por Clara Stumpf Pitzer
Renato Rocha Pitzer nasceu em 1963, juntamente com seu irmão gêmeo, Jorge, em Nilópolis. Aos quatro anos vieram para Petrópolis para a companhia de seus avós Clara e Nicolau Pitzer, onde foram criados com o irmão mais novo - Reinaldo.
Aos 6 anos, os irmãos Renato e Jorge começaram seus estudos na Escola Santa Maria Goretti até a quarta série, continuando no Colégio São Judas Tadeu, na Mosela, onde terminaram o primeiro grau. Em seguida foram para o CENIP e depois para o Opção, onde terminaram o segundo grau. No mesmo período, fizeram curso no SENAI onde se formaram eletricistas. Fizeram então prova para a faculdade e, como um deles não passou o outro, também não aceitou. Trabalharam então por um período na Cia. Celma e tentaram novamente o vestibular, dessa vez com êxito, e tornaram-se historiadores. Jorge e Renato eram inseparáveis.
Em 1986, Renato conheceu Marília Campos, e dessa união nasceu Carolina Maria, hoje com 12 anos. Em 1990, Jorge foi estudar na Alemanha, onde mora e trabalha atualmente. Renato continuou no Brasit, estudando e trabalhando como professor e historiador, Fazia inúmeros amigos por onde passava.
Em março de 1992, quando pensava em ingressar na vida política inclusive por incentivo desses mesmos amigos, nos foi tirado para sempre num acidente que até hoje não entendemos, deixando imensas saudades em todos os que o conheceram e com ele conviveram.
Já se foram 6 anos do trágico e misterioso acidente,
No dia 14 de março de 1992, Jesus chamou para junto Dele o nosso querido e saudoso Renato.
Ele deixou no coração dos seus familiares, parentes e amigos, uma profunda chaga que jamais se extinguirá.
A saudade é uma doença incurável que aos poucos vai nos consumindo.
VICENTE BARRETO ' O FARMACÊUTICO DO QUARTEIRÃO BINGEN - Por Clara Stumpf Pitzer
Aproveitando a ocasião do dia dos pais, quero homenagear uma pessoa que foi muito prestativa para o povo do Bingen. Essa pessoa foi o Sr. Vicente Barreto farmacêutico e amigo de todos. Teve a sua Farmácia na Rua Bingen em Frente a Fabrica Werner nos anos de 1940 e mais tarde passou para o início da Rua Darmstadt, no prédio São Jose onde também residia. Era um grande profissional e amigo de todos. Em caso de doença simples, ia-se à farmácia e ele resolvia o problema. Em casos mais graves, indicava logo um médico. Podia-se chamá-lo a qualquer hora do dia ou da noite. Ele deixava sua cama para atender o doente. Ia a pé ou na carroça do leiteiro. Como na época, as crianças andavam sempre descalças, elas eram muito acometidas por vermes. Mas, a fórmula do seu Vicente era infalível! Sempre muito alegre e brincalhão, nas visitas às casas dos pacientes, o seu Vicente gostava de sentar-se na cozinha para tomar café e comer pão alemão. Vicente Barreto foi casado com Dona Ruth, com quem teve dois filhos: Rutina e Toninho, que hoje é o conhecido Dr. Antônio Barreto, renomado arquiteto em nossa cidade e que continua no Bingen. Felicidades para ele! Seu Vicente candidatou-se a vereador. Como era muito respeitado, foi eleito e tornou-se vereador por pouquíssimo tempo pois faleceu pouco tempo depois. E assim se foi, o prestativo e dedicado amigo Vicente. Que ele esteja na paz de Cristo.
UMA VISITA À CASA DO SR. PEDRO MAYWORM

Por Marcos Olender e Maria Tarcila Ferreira Guedes - Historiadores

Iniciando o inventário dos traços culturais germânicos em Petropolis gostaríamos de nos deter a uma família, cujas atividades produtivas são sem dúvida, já consideradas patrimônio cultural de Petropolis. Tal consideração parte inclusive de teécnicos de instituições como o IBPC.

Trata-se da família Mayworm ou melhor, do ramo dela encabeçado pelo Sr. Nicolau Mayworm, produtor dos famosos vinhos do Quarteirão Brasileiro.

Documento do IBPC:

O IBPC, através de sua Coordenação Regional apresentou, no meio deste ano a sua contribuição para a produção do plano Diretor do nosso Município. Nesta a instituição ressalta a sua preocupação em identificar, ressaltar e preservar:

As reminiscências do século do ouro, registros da ocupação industrial, habitações de moradores ilustres, exemplares arquitetônicos ilustres, exemplares arquitetônicos típicos das diversas épocas, especializações dos fazeres tradicionais e etc. Este universo cultural, expresso num ambiente urbano preservado, revela as diferentes formas de vida, os hábitos, s produções artesanais e industriais de geração de imigrantes de colonos que desde a implantação da cidade, tiveram papel preponderante na consolidação daquele nucleo urbano.

Neste universo cultural, o documento ressalta a, entre outros:

"Imóveis que espelham modos de viver, atividades produtivas, fazeres populares, hábitos e tradições locais.

Nessa classificação podemos incluir sem sombra de dúvidas, a indústria caseira de vinhos ( e agora também de cerveja) da família Mayworm, no Quarteirão Brasileiro a qual visitamos no domingo dia 2 de dezembro de 1991.

A chegada,:

Chegar à casa do Sr. Pedro Nicolau Mayworm e de sua família, é relativamente fácil. A localização de sua morada, bem como da indústria caseira de vinhos anexa a esta, é bastante conhecida não só dos moradores do bairro, mas também de boa parte dos descendentes dos antigos colonos. Ao entrar, somos recebidos com a simpatia de sempre. Nesta nossa visita, não nos foi possível, devido ao seu precário estado de saúde - conversar com o Sr. Pedro Nicolau, mas tanto sua nora, senhora Leda bem como seus dois netos: Sr. Adalmir Pedro (o Mirim) e Adalberto Pedro (o Beto) foram bastante solícitos, fornecendo-nos várias informações sobre as tradições da família.

Em muitos pontos estas tradições se confundem com as de várias famílias de descendentes das primeiras famílias de colonos. Este é o caso por exemplo, da criação caseira de porcos. Criação esta que abastece a família e parte da vizinhança, para quem é distribuída parte da carne do animal. No abate e no preparo da carne de porco, as tarefas são repartidas pela família, tarefas estas que incluem a produção de alguns embutidos como as linguiças de sangue ou do fígado do animal, incumbência  preferida de D. Leda, responsável pela coordenação do preparo do porco, do corte à panela.

*Os famosos vinhos*:

Mas o que diferencia a família Mayworm de outras famílias de colonizadores é a produção dos seus famosos vinhos, cobiçados entre outros por vários de nossos Presidentes da República como os Srs. Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek, Costa e Silva e João Batista Figueiredo. A fabricação de vinhos é uma tradição na família, anterior inclusive de sua chegada ao Brasil. Já nas suas terras de origem - em Bielstein, município de Olpe na Westfalia (região da atual Alemanha), segundo conta um dos netos do Sr. Pedro Nicolau, o Sr. Adalmir Pedro, mais conhecido pelo apelido de Mirim, a família é conhecida pelos seus vinhos. Mas se na Westfalia estes eram produzidos a partir da uva, no Brasil, a ausência de plantações desta fruta na época, fez com que se começasse a experimentar outras frutas no preparo da bebida. Foi assim que foram utilizados, a princípio, duas das mais típicas frutas encontradas na região: a laranja e a jaboticaba. A estás se seguiram imediatamente a ameixa, o pêssego, a tangerina, o abacaxi, a grumixama e mesmo frutas não tão típicas assim como, é lógico a própria uva e há vinte anos, a maçã.

A parte de todas estas frutas, se fabricam até hoje, por 5 gerações sucessivas, os vinhos da família Mayworm. A própria estrutura,artesanal de produção da bebida, não se alterou muito até os nossos dias. A única diferença é que, se antes toda produção era feita em barris de madeira, hoje estes estão reservados apenas para o envelhecimento de algumas qualidades de vinho, como os do tipo Porto ou Madeira (feitos de uva) e o especial de Jaboticaba. Vinhos especiais cujos barris são abertos todo o ano no Dia das Mães e que são reservados aos felizes clientes que tiveram a sorte de consegui ter seu nome incluído na pequena lista de reservas, ou ainda aqueles que, após longa e angustiante espera, são agraciados com algumas dessas garrafas, decorrentes da desistência de última hora de alguns dos contemplados.

No que diz respeito à fermentação do vinho, estes barris foram substituídos, a três gerações, por garrafas de vidro, devido ao ataque constante que vinham sofrendo dos cupins.( Cupins estes, cabe aqui ressaltar, possuidores de extremo bom gosto)

Tal fermentação é feita de forma mais natural possível, sem utilização de nenhum processo químico artificial e mesmo, em muitos casos sem saber acréscimo de açúcar que é aficionado apenas naqueles vinhos cuja origem são frutas  extremamente ácidas como a tangerina, a laranja e o abacaxi. Por ser natural, a média de tempo que dura a fermentação de um vinho é, por exemplo, no caso da Jaboticaba, de dois anos a dois anos e meio.

*A Cerveja do Mirim*

Antes do vinho. Mirim retornou desde 1987 a produção de cerveja, iniciada por seu avô. Cerveja produzida originalmente à base de milho, substituído por Mirim pela cevada. Revelando-se além de profundo enólogo ( como seu irmão Beto, de quem ouvimos valorosas informações de como guardar e consumir os vinhos), um profundo cervejeiro ou cervejólogo, como prefere ser chamado. Mirim descreveu-nos as características de todos os tipos de cerveja que produz. E são vários tipos. Desde as cervejas brancas em suas diversas variedades (como a Weizen, a Pilsen, a Light e a Laser, passando pelas vermelhas como a Alemã Alt e a München e chegando às pretas como a Malzbier ou a Bock.

Como o vinho, a cerveja apresenta portanto, diversas variedades produzidas a partir de variedades e quantidades diferentes de lupo . Como o vinho, também cada variedade de cerveja - ensina-nos Mirim - pede um prato específico para ser consumida. As vermelhas por exemplo, cujo teor alcoólico varia de 5 a 6°, vão bem tanto com as carnes vermelhas, como com as massas e são muito utilizadas na Alemanha, na época de Natal. As brancas com o teor alcoólico variando dia 2 2°, da Weizen aos 5, 5° já são mais adequadas aos queijos, peixes e frios. E as pretas, principalmente a fortíssima Bock com seus 9° de teor alcoólico para uma suculenta feijoada 

Como o vinho, requer também, cuidados especiais na sua produção. Todas as terças e quintas feiras, Mirim acorda as 5horas da manhã para checar a espuma e o bouquet de suas cervejas que depois de engarrafadas, ainda permanecem de 30 a 35 dias guardadas na adega antes de serem distribuídas para o consumo.

Vários hábitos também, tem como personagem príncipal, a cerveja, numa cultura tão regada por esta bebida como a alemã. Mirim conta-nos que na Alemanha até hoje, quando nasce uma Criança, a sua família comemora o acontecimento com os amigos abrindo uma garrafa da levíssima cerveja Weizen, cujo primeiro gole, servido em uma colher de sopa, vai exatamente para o bebê.

Mas além de produzir estás diversas qualidades de cerveja, Mirim revela-se também (além de apicultor e fotógrafo), um colecionador de rótulos das mais variadas marcas desta tradicional bebida alemã. Títulos de famosas e até mesmo incomuns por essas terras, cervejas alemãs como a Licher ou a Paulaner ou a portuguesa Sagres. Rótulos também de marcas nacionais hoje pouco conhecidas por serem caseiras como as suas concorrentes mais diretas; a Petropolitana Baden Bier ou as cariocas Rhein's e a Nasomed ou as já extintas Quitandinha e a preta Cascata.

*Uma tradição que se perpétua*

Esta atividade não pode e não deve parar. Pensa do assim, a  família Mayworm já ensina a 6a geração, formada por enquanto pelos filhos do Beto e por sua esposa Luisa. "Luisa, Luiz Adalberto, Patrícia Luiza e Heloisa Luisa a gostar de produzir e consumir os seus produtos, principalmente os vinhos . Dar saúde e longa vida para,seus filhos e netos, para não pararem nunca com está produção, é este o pedido a animar constantemente as preces de D. Ieda.

Postada no site em 15-03-2023

VISITA À CASA DE ELIZABETH BRÁZ

Elizabeth Magalhaes Braz nasceu em 29-09-1947, portanto depois da II Guerra Mundial. É descendente da família Klein por parte do avô materno Christopher Klein.

Fui até sua residência, um apartamento jeitoso no início da Rua do Imperador. Ela diz que tem poucas recordações mas começa a lembrar e relata parte da história de sua família. Foi filha única e não casou.  Sua mãe D. Odete, faleceu há poucos anos. Hoje Elizabeth vive sozinha

Ela conta que por algum tempo sua família morou na Rua Padre Feijó no Alto da Serra e lá conheceram uma família de alemães,  Sr. Edgard e a Sra. Iná Vogel com alguns filhos.  Estes ainda falavam alemão e ensinaram para sua mãe uma musiquinha em alemão que Elisabeth tenta cantar para mim mas a letra não tem clareza e não me permite ser decifrada. Marcas da guerra.

Anos depois o casal Vogel foi morar no Bingen, a Família de Elizabeth perdeu todo e qualquer contato com a cultura e a língua alemã e mudou-se para o Valparaiso, próximo ao Hospital SMH e onde segundo ela havia uma Fábrica de veludos.

Aos 12 ou 13 anos foi estudar no Colégio Santa Isabel e nessa época nasceu sua prima Ione. Devido a problemas de saúde, sua prima passou a ser criada por sua mãe D. Odete como se fosse sua irmã caçula.  Dali em diante Elizabeth passou a sentir-se sozinha pois a pequena prima/irmã precisava da atenção total de sua mãe.

As vezes na saída do Colégio, Elizabeth ia se encontrar com seu pai, que trabalhava na loja “A Sinfonia” e voltavam juntos para casa. Anos mais tarde estudou no Colégio Cardoso Fontes e cursou pedagogia na UCP. Também estudou piano mas não pratica há muito tempo.

Mas seu “”encontro” com a cultura alemã só veio mesmo quando um dia por acaso, ouviu o Programa; “A Alemanha e a música”. Lembrou-se das velhas músicas que ouviu na infância no convívio com a família Vogel e passou a ouvir o programa todos os domingos.  Na Bauernfest deixou de ser apenas expectadora do desfile, para participar do mesmo, carregando o nome da sua família KLEIN, na ala das famílias. Conforme seu interesse foi crescendo, Elizabeth estudou alemão com a Professora Patrícia Portugal ou Patrícia Brahms, como ela gosta de ser chamada. Mas a falta da pratica fez ela esquecer tudo o que aprendeu.

Em 2007 empreendeu uma jornada totalmente inusitada. Ele fez o caminho de Santiago de Compostella. Viajou sozinha e viveu uma grande experiência com sua peregrinação. Dificuldades com a língua, o clima, ambientalização, aprender a “se virar” nos albergues, a  não fazer compras durante o caminho para não carregar peso, lavar sua própria roupa no albergue á noite e sair para mais um dia de peregrinação às 3 horas da manhã. Mais de trinta dias de caminhada. Mas também fazer amigos. Chegar ao destino é o objetivo o tempo todo mas quando se chega, também vem o sentimento de deixar para trás os amigos conquistados durante essa aventura. Por outro lado, voltar para casa, rever as pessoas amadas também é muito bom. De volta a Petrópolis, Elizabeth escreveu um pequeno livro entitulado:  “Vida de Peregrino”

Elizabeth me disse que ficou feliz quando a Olivia passou a fazer parte da equipe do programa A Alemanha e a Musica” pois sendo ambas professoras, trabalharam juntas na Escola São Judas Tadeu no Quarteirão Mosela por vários anos.

O que me impressiona sempre que converso com muitos descendentes de alemães que vivenciaram a guerra ou aqueles que nasceram logo depois, é o fato de eles relatarem que não falam alemão, que nunca falaram e nem ouviram seus pais falando. Sabem que são descendentes de alemães mas não conhecem a história da imigração alemã em Petrópolis, mesmo com tantos nomes de ruas, praças e os nomes de todas as famílias gravadas no Obelisco da cidade, parecem não se enxergarem como sendo parte dessa história. Terá sido o medo que calou pelo menos três gerações?

FIM

Postada no site em 15-03-2023

AS FESTAS DA CAPELA - Por Clara Stumpf Pitzer
O Bingen antigo
Há muitos anos, no final do século passado, no alto da colina do Morro de São Francisco, onde tudo era mato, um homem muito devoto à N. Sra. Auxiliadora, sofreu um profundo ferimento na perna quando cortava lenha. No mesmo instante lembrou-se da Senhora Auxiliadora e prometeu: se ficasse curado ergueria no local uma pequena capela. E assim foi feito. Construiu uma pequena sala onde logo os devotos do quarteirão, que tinham como caminho apenas uma picada pelo mato, iam fazer as suas orações do terço. Depois, com a colaboração dos frades franciscanos do Convento do Sagrado Coração de Jesus e das famílias do quarteirão, foi construída uma pequena capela com a imagem de Maria, foi aberto um caminho pelo mato e também foi planejada a festa que se realizaria todos os meses de maio, que é o mês de Nossa Senhora. No dia da festa saía uma procissão da Igreja do Sagrado Coração de Jesus, na Montecaseros, que seguia até à Capela. Como não havia condução, pessoas de vários bairros e do centro da cidade acompanhavam Também acompanhavam a procissão os congregados Marianos, a liga N.Sra. Auxiliadora das irmas de Santa Catarina (que muito colaboravam) e a Associação de Santa Cecília todos carregavam seus estandartes. Existia também una banda de música que fazia seus números durante o trajeto. Assim caminhavam em passos lentos até o alto da colina, onde eram recebidos com fogos, cantos aplausos e muita emoção. A missa solene era cantada pelo Coral Santa Cecília, o qual tinha como organista a Sra. Maria Rentzler Vogel e como regente o Sr. Jorge Vogel todos os integrantes eram moradores do Quarteirão Darmstadt. Logo após a missa solene começava a festa, barraquinhas improvisadas, com muitos petiscos, cucas, doces e o tradicional pão alemão, que era doado pela comunidade. Os visitantes faziam seus piqueniques na beira do malo, na sombra das árvores. Como não havia luz elétrica, a festa terminava antes do anoitecer, Novamente os visitantes seguiam em procissão, desciam o Morro de São Francisco com a banda de música tocando, e felizes voltavam para as suas casas. Com o passar dos anos e a chegada da luz elétrica a festa se prolonga até altas horas. Também, com a chegada do ônibus muitas pessoas deixaram de acompanhar a procissão e assim foi diminuindo e aos poucos, com o grande movimento das ruas, não foi mais possível a realização da romaria. Ano após ano, com o esforço das antigas diretorias c da atual (que muito vem se esforçando) e também com a colaboração do povo, temos ainda a nossa festa na maravilhosa Capela de N. Sra Auxiliadora do Bingen, que atrai muitos visitantes. Deus abençoe a todos que colaboraram e aos que ainda colaboram.
Dona Clara tem 86 anos, e é descendente direta dos primeiros colonos alemães que chegaram à Petrópolis em meados do século passado.
CENTENÁRIO DA CAPELA N. S. AUXILIADORA. - Por Clara S. Pitzer
Cada vez mais, temos que nos convencer que Deus faz tudo certo e bom, mesmo muitas vezes dolorosamente. No dia 30 de setembro passado, foi comemorado o Centenário da Capela de Nossa Senhora Auxiliadora, que em decorrência do acidente sofrido pelo Sr Maya e graças a Nossa Senhora Auxiliadora que atendeu o seu pedido de que se fosse curado ergueria ali uma pequena Capela.
Se não fosse aquela pequena sala com a imagem de Maria que logo começou a ser visitada pelas famílias no bairro Darmstadt, talvez hoje não tivéssemos a nossa linda Igreja que beneficiou as antigas famílias que na época eram poucas e continuam hoje, com as missas aos domingos, os grupos de jovens, os encontros de casais, casamentos, batizados, catequeses e primeira comunhão entre outros acontecimentos que beneficiam a todos nós, muitos pertencentes à quinta geração daqueles pioneiros.
Foi lindíssima a Santa Missa dos 100 anos, celebrada pelo Sr Bispo Dom José Carlos de Lima Vaz. Estavam presentes Frei Vitalino Piaia (Pároco), Frei Ludovico (Vigário Pa- roquial), Frei Volnei que por alguns anos trabalhou na Capela e Frei Luiz Francisco Kreischer, filho do nosso bairro. Também estava presente Frei Ricardo, estudante. Como foi também a comemoração do dia da Bíblia, ela foi levada ao altar com uma linda coreografia, apresentada por um grupo de meninas da comunidade de Manoel Torres. Também participaram os Ministros da Eucaristia, Carlinhos, Fran- cisco, Maria Clara, Heloísa e Érica.
Estavam presentes pessoas de várias comunidades, a Igreja estava lotada. Foi uma cerimônia inesquecível, com a orquestra de jovens da comunidade e todo o povo cantando com muita alegria e entusiasmo. Após a missa realizou-se um alegre almoço.
Bendita seja Nossa Senhora Auxiliadora que, ao atender o pedido do Sr Maya vem beneficiando muitas gerações de nossa comunidade. E graças a um doloroso episódio que hoje temos a ladeira Maya que nos leva ao alto do Morro de São Francisco.
Agradeço a Deus por me ter dado estes longos anos de vida. Participei dos 50 anos da Capela, sempre colaborando e prestando meus serviços na medida do possível. Sinto muitas saudades da presença das minhas colegas e amigos que muito colaboraram também, e hoje não estão mais entre nós. Foram da terceira geração como eu e poucos ainda estão vivos. Minhas forças estão diminuindo, e minha voz fracassando, mas, tenho ainda a graça de Deus de poder participar da Santa Missa aos domingos na nossa Centenária Capela, que considero a minha irmã mais velha, pois quando nasci, ela tinha apenas 10 aninhos.
De todo o passado, ficaram lembranças e muitas saudades.
Que Deus abençoe as futuras gerações.
COMO ERA O COMÉRCIO - Por Clara Stumpf Pitzer
COMO VIVIAM NOSSOS ANTEPASSADOS -- COMO ERA O COMÉRCIO
Por Clara Stumpf Pitzer
Naqueles dias, não existiam padarias nos bairros e todos faziam seus pães em casa. Era costume, quando alguma família ficava sem pão, pedir" emprestado " ao vizinho mais próximo, devolvendo logo que fosse feita, em sua casa, nova fornada. Também não existiam automóveis, por isso mesmo não havia acidentes. Nos bairros só se encontravam carroças utilizadas para o transporte de mercadorias para os fregueses. Eram usadas também pranchas que eram um tipo de carroça para o transporte de cargas maiores e mudanças. Na cidade, existiam os carros, as charretes e os tilburis, que tinham dois lugares: um para o freguês e outro para o cocheiro, todos puxados por cavalos.
Ainda na cidade encontravam-se carroças que eram usadas pelos padeiros para entrega do pão nas casas. A coleta do lixo era feita do mesmo modo. No centro haviam também os bondes, que andavam nos seus trilhos, o que era ótimo pois não havia chance de acontecerem acidentes, a não ser que alguém atravessasse os trilhos, o que ninguém fazia. Acidente naquele tempo, só coice de animal. Não se sabia nem o significado da palavra "sequestro". As crianças andavam quilômetros até a escola, e seus pais ficavam despreocupados. Hoje em dia, são sequestradas na porta da escola, em cada esquina se encontra o perigo, e as pessoas vivem tensas e aflitas. Que Deus nos livre destas violências.
Antigamente o problema era as enchentes. Antes do calçamento, as ruas eram um pouco acima do nível do rio e, com as fortes chuvas de verão, muitos trechos dos bairros ficavam inundados, tornando-se verdadeiras praias. Algumas casas eram atingidas. As pontes que eram de madeira, muitas vezes iam parar na ponte do vizinho e as duas resolviam "dar uma voltinha indo rio abaixo levadas pela enxurrada.
Naqueles dias só se conheciam duas religiões, trazidas pelos colonos da Alemanha: a Luterana e a Católica, que eram muito respeitadas. As pessoas eram mais tementes à Deus, guardavam mais os domingos e a Semana Santa. As famílias eram mais unidas e felizes. De tudo isso ficou uma imensa saudade e uma enorme descendência que são nossos queridos jovens e crianças.
Junho de 1992
COMO VIVIAM NOSSOS ANTEPASSADOS 2 - Por Clara Stumpf Pitzer
COMO VIVIAM NOSSOS ANTEPASSADOS - OS PASSEIOS E AS MORADIAS
Vamos lembrar um pouco mais como era a vida dos nossos antepassados, filhos e netos dos colonos, que enfrentavam, diariamente, muitos problemas e tinham que aceitar os sacrifícios que surgiam nos seus caminhos.
No início do século, em Petrópolis, os colonos ou seus descendentes enfrentavam verdadeiras maratonas para realizarem coisas que hoje achamos comuns, como por exemplo ir à igreja. Naqueles dias não haviam igrejas perto das casas. Tanto a igreja Católica quanto à Luterana ficavam longe dos bairros e tinha que ir pé, pois não havia transporte coletivo.
As casas daquela época eram simples, sem conforto. O fogão era à lenha, a luz de lampião à querosene, os banhos eram de bacias, a roupa era passada a ferro de engomar a carvão. Não havia encanamento de água das casas, e as nascentes ficavam distantes. A água tinha que ser carregada, as roupas eram lavadas em tinas feitas com barril cortados ao meio. Algumas famílias faziam encanamentos de embaúba, e assim conseguiam trazer a água até mais perto. Durante o dia, podia-se deixar as casas abertas quando precisava-se sair, tomando o cuidado de encostar a porta para que as galinhas, que ficava ciscando, não entrassem. Ao voltar estava tudo em seu lugar. As pessoas não tinham conforto, mas eram muito mais felizes e tranquilas. Não haviam tóxicos. Não haviam tantas maldades, os filhos respeitavam mais os pais, eram mais obedientes.
Muitas vezes, as mães saiam à noite, levando a criançada para visitar os parentes, carregavam una lanterna com vela, isto quando não tinha luar, e iam despreocupadas, pois não existia o perigo de toparem com assaltantes. O único perigo era o de darem uma topada nas pedras ou chutar algum sapo que porventura atravessasse o seu caminho.
Junho de 1992
COMO VIVIAM NOSSOS ANTEPASSADOS - Por Clara Stumpf Pitzer
COMO VIVIAM NOSSOS ANTEPASSADOS - Por Clara Stumpf Pitzer
como eles se vestiam
Há muitos e muitos anos atrás, as mulheres usavam saias longas, anáguas e um corpete que fazia a vez do soutien, blusas de mangas compridas com gola alta, sapatos fechados, cabelos longos sempre presos. As menininhas usavam vestidinhos abaixo dos joelhos com mangas compridas, cabelos com tranças, agasalho de flanela, tamanquinhos ou sapatinhos fechados.
Os meninos usavam calças até as canelas e botinhas, porém, quando iam passear, usavam terninho. Em casa, todos andavam descalços. Os homens usavam calças de brim, ceroulas, camisas de mangas compridas e tamancos. Isso para trabalhar. Para passeio usavam terno, colete, camisa branca de mangas compridas, gravata e chapéu de feltro.

Como viviam nossos antepassados (parte quatro) - como eles se alimentavam

A maior parte dos alimentos que consumiam eram plantas e colhidos por eles próprios. Batata-doce, inglesa, aipim, cenouras, beterrabas e hortaliças. Também o repolho do qual faziam chucrute. Carne de porco, lingüiça, queijo de porco, manteiga, leite coalhado... Tudo das suas próprias criações. Também o pão, cuca e biscoitos eram feitos em casa. Havia nos quintais muitas fruteiras, que usavam para fazer doces para passar no pão. Eram de pêssegos, ameixas, goiabas, cidra e abóbora.
Finalmente surgiram no começo do quarteirão, dois armazéns (vendas) dos senhores Pedro Winter e Carlos Loos. As famílias já compravam arroz, feijão, farinha, carne seca e o cardápio melhorou. Os fregueses faziam suas listas de compras num caderno que era entregue no armazém e recebiam as mercadorias em casa por um empregado que vinha numa carroça puxada por um animal e só no fim do mês a conta era paga...
CONSTRUÇÃO DA ESCOLA SANTA M. GORETTI - Por Clara Stumpf Pitzer
CONSTRUÇÃO DA ESCOLA SANTA M. GORETTI - Por Clara Stumpf Pitzer
A ideia de construir uma escola no bairro partiu do frei Mathias Heide- mann (padre responsável pela Capela N. Sra. Auxiliadora), além de José Kloh, Ernesto Schön, Henrique Stumpf, Pedro Stark e Carlos Vogel. A escola começou a funcionar na sacristia e os primeiros professores foram dois jovens ex-seminaristas, Luiz Carlos Gomes e Constantino Rodrigues.
Quem muito trabalhou no platô feito para a construção da Escola Santa Maria Goretti foram os senhores Pedro Stark (Pitcha), Reinaldo Troyack, Henrique Stumpf, Pedro Vogel, Alfredo Dias de Oliveira, Carlos Vogel, Emesto Schön, Davi Christ e José Kloh. O trabalho foi feito com enchadões e pás. A terra era retirada com galiota, à noite e à luz de velas, sempre depois do expediente de trabalho de cada um, ou nos feriados. Depois deste trabalho foi colocada finalmente a pedra fundamental da escola pelo Sr. Pedro Azeiredo. Frei Mathias fez a cerimônia da bençăo, com toda a comunidade presente e o coral da Capela, que tinha como organista o sr. Ernesto Schön que foi o primeiro presidente da escola que já funcionava na sacristia.
As moças do bairro organizavam bailes no antigo salão do Clube Bingen (que ficava em cima de onde atualmente é o Super Mini) para angariar dinheiro para a escola. O sr. José Kloh organizava teatros, como a peça "Branca de Neve" que foi um lindo espetáculo. Quem muito colaborou com bailes e teatros foram: Maria Vogel, Amélia Vogel, Clara Justen, Cacilda Pitzer, Silvia Vogel, Cláucia Pitzer, Arlete Vogel, Laurinha, Norma Kreischer, Rosinha, Flora Vogel, Alda Barros, Irma Justen Vera Kreischer, Terezinha Mundstein e Vilma Mundstein. Participaram da "Branca de Neve", Norma Kreischer (como Branca de Neve), Flavio Justen (como o Principe), e ainda Euclides Baltor, Reinaldo Troyack, Romeu Pitzer, José Starck, José Vogel (Capelinha), Alberto Stumpf e Arnaldo Justen.
Os anões foram os meninos Flávio Kloh, Waldir Stumpf, Anselmo Pitzer, Renato Pitzer, José Luiz Vogel, Silvio Vogel e Aloisio Stumpf.
As famílias do bairro, e outras mais, colaboravam com carnês que eram pagos mensalmente, e estes se tornaram sócios fundadores da escola.
Muitas outras pessoas trabalharam em mutirões e colaboraram, mas, não lembro dos seus nomes. O Sr. Júlio Botelho que era o chefe da Branca Companhia Construtora e que trabalhou na abertura da Estrada do Contorno, colaborou cedendo um Trator aos domingos para ajudar no desterro.
CORAL DO CLUBE 29 DE JUNHO - por Clara Stumpf Pitzer
CORAL DO CLUBE 29 DE JUNHO - por Clara Stumpf Pitzer
Aproximadamente em 1960, existiu o Coral 29 de Junho, que na época tinha como violinista, regente e responsável, o Sr. Ernesto Schön. A maioria dos integrantes eram do Quarteirão Darmstadt.
Foram realizadas muitas festas com apresentação do Coral, como por exemplo nos clubes Harmonia Brasileira, Coral Concordia, Bingen e até no Palácio de Cristal. Eram cantadas canções em alemão e também em português. Recordo-me de algumas canções como "Schön ist die Jugend". Eram cantadas também canções natalinas nas festas do natal. Estavam sempre presentes nas festas e apresentações o saudoso Dr. Guilherme Auler e também os demais diretores, cujos nomes não recordo. Eles valorizavam muito o coral. Foi muito bom ter vivido todo aquele amor. Deixaram muitas recordações e saudades de todos aqueles amigos do passado, dos alegres e divertidos ensaios do Coral, semanalmente na casa do Sr. Ernesto. Os integrantes eram todos acima de 40 anos, alguns beirando os 70 anos de idade. Desses personagens, há somente 4 sobreviventes: Elisa Schön, Gloria Kreischer, Selma Echternacht e eu, Clara, para contar a história.
OS INTEGRANTES DO CORAL
Do Quarteirão Darmstadt
Ana Winter Stumpf
Jorge Kreischer
Mercedes Kreischer Starck
Cella Fatima Kreischer
Maria Vogel Gonçalves
Elisa Justen Kreischer
Elisa Stumpf Schön
Clara Stumpf Pitzer
Gloria Kreischer Monsores
Selma Echternacht

De outros bairros:
Pedro Hees
Wili Kreischer
Conrado Vogt
Henrique Lepsch
Catarina Lepsch
João Moebus
Roberto Essinger Moebus
Romilda Moebus
Jacob Haubrich
LEMBRANDO A VIDA DE OUTRORA – Por Clara Stumpf Pitzer
Nota: D. Clara Stumpf Pitzer nas- ceu em 23/03/1911, nas terras per- tencentes a seus ancestrais, no Quarteirão Darmstadt, onde reside até hoje. Nascida Clara Stumpf, filha de Pedro Stumpf Sobrinho e de Carolina Winter, bisneta de colonos alemães, casou-se com Nicolau Pitzer Neto - também conhecido como José Nicolau Pitzer - de quem herdou o sobrenome Pitzer. As situações que narra neste foram vivenciadas não só pelos seus antepassados mas, por ela própria. O cenário descrito neste texto, segundo D. Clara, perdurou até, aproximada- mente, os fins da década de 20 deste nosso século XX.
Vamos lembrar um pouco, como era a vida dos nossos queridos antepassados, filhos e netos dos colonos, que enfrentavam, diariamente, muitos problemas e tinham que aceitar os sacrifícios que surgiam nos seus caminhos.
No início do século 20 em Petrópolis, os colonos ou seus descendentes enfrentavam verdadeiras maratonas para realizarem coisas que hoje achamos comuns, como por exemplo, ir à Igreja. Naqueles dias não haviam Igrejas perto das casas, tanto a Igreja Católica quanto a Luterana ficavam longe dos bairros e tinha-se que ir a pé, pois não havia transporte coletivo.
Não havia iluminação pública, os falecidos eram velados nas casas, sendo depois levados em caixões pesados até o cemitério e tanto a ida quanto a volta eram realizadas a pé. As casas daquela época eram simples, sem conforto, o fogão era a lenha, a luz de lampião à querosene, os banhos eram de bacias, a roupa era passada a ferro de engomar a carvão. Não havia encanamento d'água nas casas, e as nascentes, na maioria das vezes, ficavam distantes, a água tinha que ser carregada, as roupas eram lavadas em tinas feitas com barris cortados ao meio. Algumas famílias faziam encanamento de embaúba (arvore cujo tronco é oco) e assim conseguiam trazer a água até mais perto de suas casas. Naqueles dias não existiam padarias nos bairros e todos faziam seus pães em casa.
Era costume que quando uma família ficava sem pão, pedir "emprestado" ao vizinho mais próximo, devolvendo logo que fosse feita uma nova fornada em sua casa. Por ocasião do nascimento de um neném, as famílias convidavam seus vizinhos e conhecidos para conhecerem o recém nascido, dessa forma uns sempre mantinham contato com os outros.
Aos domingos, ia-se para a casa da vovó, onde a criançada se juntava para brincar de roda e os adultos para conversar ou jogar cartas, o que, com o passar do tempo, e a vinda da televisão, foi ficando esquecido. Os costumes foram mudando.
Muitas vezes, as mamães saiam à noite, levando a criançada para visitar os parentes. Carregavam uma lanterna com velas, isso quando não tinha lugar e iam despreocupados pois não existia perigo de encontrarem assaltantes. O único perigo era o de toparem com algum sapo.
Durante os dias podia-se deixar as casas abertas quando as famílias precisavam sair, tomando cuidado apenas de encostar a porta par que as galinhas que ciscavam nos quintais não entrassem. Quando as famílias voltaram, estava tudo no lugar.
As pessoas não tinham conforto, mas eram muito mais felizes e despreocupadas. Não haviam drogas, quando as jovens saiam os pais não ficavam tão preocupados como hoje. Não havia tantas maldades, os filhos respeitavam mais os pais, eram mais obedientes.
Não existiam automóveis, por isso mesmo não haviam acidentes. Nos bairros só se encontravam carroças utilizadas para o transporte de mercadorias para os fregueses. Eram usadas, também, pranchas que eram um tipo de carroça para transporte de cargas maiores e mudanças.
Na cidade existiam os carros, as charretes e os Tílburis (que tinham só dois lugares, um para o freguês e outro para o cocheiro), todos puxados por cavalos. Ainda na cidade, encontravam-se carroças que eram usadas pelos padeiros para a entrega do pão nas casas. A coleta do lixo também era feita do mesmo modo. No centro da cidade havia também, os bondes, que andavam nos seus trilhos, o que era ótimo pois não havia chance de ocorrer acidentes, a não ser que alguém atravessasse os trilhos, o que ninguém fazia. Acidente, naquele tempo, só coice de animal. Não se sabia nem o que significava a palavra "sequestro".
As crianças andavam quilômetros até a escola e seus pais ficavam despreocupados. Hoje em dia são sequestrados na porta da escola, em cada esquina se encontra o perigo e as pessoas vivem tensas e aflitas. Que Deus nos livre destas violências.
Antigamente, o problema era as enchentes. Antes do calçamento, as ruas eram um pouco acima do nível do rio e, com as fortes chuvas de verão, muitos trechos dos bairros ficavam inundados, tornando- se verdadeiras praias. Algumas casas eram atingidas. As pontes, que eram de madeira, muitas vezes iam parar na ponte do vizinho e as duas resolviam dar uma voltinha indo rio abaixo levadas pela enxurrada.
Naqueles dias só se conheciam duas religiões, trazidas pelos colonos da Alemanha: a Luterana e a Católica que eram muito respeitadas. As pessoas eram mais tementes a Deus, guardavam mais os domingos e a semana santa. As famílias eram mais unidas e felizes.
De tudo isso ficou uma imensa saudade e uma enorme descendência que são hoje nossos queridos jovens e crianças.
Vamos pedir muito a Deus que Ele abençoe e proteja sempre nossa juventude e o povo em geral.
LEMBRANÇAS DA MINHA INFÂNCIA - Por: Lauro José de Avellar
A Petrópolis de hoje não é nem de longe, a mesma de anos atrás. Muita coisa mudou nos últimos 40 ou 50 anos.
A chegada dos brinquedos eletrônicos, a televisão, o vídeo-game, acabaram com as brincadeiras infantis tão comuns naqueles tempos. Lembro-me de, quando criança, morávamos na Rua Monsenhor Bacelar nº 376 e brincávamos de escorregar ali nesta rua, logo no início da descida, onde na época funcionava a embaixada inglesa.
A garotada toda se reunia ali e ficava horas à fio, escorregando naquele cimento áspero. Quando então íamos para casa, os fundilhos das nossas calças estavam todos comidos pelo cimento e nossa mãe já vinha nos receber com o chinelo na mão.
E você ouvinte, pensa que abandonávamos nossa diversão por causa disso? Que nada!!!
No dia seguinte, lá estávamos nos de novo praticando nossas escorregadas, rasgando novas calças e merecendo novas chineladas.
O nosso “Escorregador” continua lá até hoje e quando passo por lá, dá uma saudade imensa dos meus tempos de criança, tempos que não voltam mais. E ao rever aquele lugar fico pensando: Será que as crianças da Monsenhor Bacelar ainda hoje, brincam de escorregar? Eu sei que não, lamentavelmente, os tempos são outros....
Naquele tempo brincávamos de bolinha de gude, de pião, de pique esconde, soltar pipa,
E tantas outras brincadeiras que nos colocavam em contato com o sol, com a natureza e principalmente, com as outras crianças, coisas que hoje já não acontecem.
MARIA DE LOURDES MOLTER BRANCO
Ela nasceu na Av. Ipiranga 326 em 11 de junho de 1924 teve um irmão Osvaldo que faleceu ainda criança. Estudou no Kindergarten na Igreja Luterana, mas o pai por ser católico achou que ela deveria estudar em colégio católico e a colocou no São José.
O dono da Casa era João Koele e a esposa era Käthe Koele. No Natal D. Käthe mandou uma costureira de Correas fazer vestidos de bonecas e trouxe as duas filhas do marido da Alemanha, elas tinham em torno de 8 a 9 anos, vestiu-as com as roupas e as embalou em caixas, colocando-as sob a árvore. Foi um baita susto para o marido. Hoje as pessoas se preocupam em beber, fazer churrasco. Mas eu não entendo o Natal dessa forma. Da. Maria sempre teve muita curiosidade e interesse em aprender coisas novas. Sua mãe não sabia fazer trabalhos artesanais, então quando adolescente ia passar roupa em casas de vizinhas, começou a aprender tricô, crochê, bordado, etc. Até hoje não consegue sentar e ver TV, precisa estar fazendo alguma coisa. Mostra panos de prato com técnicas de aplicação, colagens, crochê, etc. Sianinhas imitando patinhos, outra imitando flamingos.
Numa ocasião conta ela, havia um programa de TV chamado cidade contra cidade. Era no Programa Silvio Santos. Tinha três ou quatro tarefas. Alguém descobriu que eu levava jeito para fazer as coisas e fui chamada para representar Petrópolis nessa gincana. Eram cinco roupas típicas que deveriam ser feitas de papel. Eu levantava durante a noite e colocava a cabeça para funcionar. Fiz uma noiva completa em tamanho normal com sapatos, anel, colar. A renda da anágua era de papel de contornar bolo. Era Guaratinguetá contra Petrópolis. Ganhei o concurso e uma ambulância para Petrópolis.
Certa vez alguém me procurou com uma música holandesa, pediu que a ouvisse e criasse em cima dela. Seriam apresentadas coreografias por diversos grupos para cada uma; chinesa, holandesa, fui ouvindo as músicas e imaginando as roupas. No dia da apresentação fiquei emocionada ao ver todos aqueles grupos caracterizados ao lembrar que tudo aquilo passou por minhas mãos.

Antônio Pinheiro, seu filho, nos conta outra história:
Ainda morávamos em outra casa, quando certa vez comprei um jogo de lâmpadas para o Natal, na Argentina, estava doido para estreá-las. Cheguei a casa e fui direto ligá-las, mas quem disse que elas acendiam. Havia uma arvore de Natal grande, testamos lâmpada por lâmpada, ligamos e nada. Meu pai ajudou, mexeu na tomada, desligamos tudo de novo e nada. Quer saber disse meu pai, deixa tudo pra lá, amanhã a gente tenta de novo. Fui deitar, deixando a porta aberta, meu quarto em cima, quando olhei p/porta, vi um menino de short branco olhando p/mim. Sentei na cama e perguntei: O que é que você está olhando p/mim, fala, fala garoto! Meu irmão que dormia ao lado disse: Com quem você está falando, está maluco? Bebeu alguma coisa? Você não está vendo o garoto?
O garoto disse: Olha, eu tinha uma missão, era levar alguém dessa casa hoje, mas você não foi teimoso, e era você que ia. Vai acender tuas velas, vai. O perigo passou.
Desci, o garoto estava embaixo olhando p/mim dizendo: vai lá agora, acende tuas lâmpadas. Eu fui lá, liguei as lâmpadas e elas acenderam todas.
Antônio continua contando.
Havia uma mulher aqui na Mosela, (ela omitiu o nome), muito esnobe e arrogante, apesar de ser de família humilde de caseiros. As pessoas já não aguantavam mais e então, quando ela marcou seu casamento, alguém bem gaiato colocou no jornal que este seria o casamento do ano. Que a recepção seria no jardim da mansão de não sei quem, as flores viriam de não se sabe onde, que o vestido da noiva seria o mais belo de todos os tempos. No dia do casamento, na igreja do Sagrado não cabia mais ninguém para ver o casamento do ano. E para tristeza dos curiosos, e satisfação dos gaiatos, o casamento aconteceu, a noiva chorando de vergonha e os noivos sendo vaiados.
Havia dois clubes. O Harmonia e o Luzeiro. Sabe quem dançava sempre com minha vó, a quadrilha francesa puxando as quadrilhas no Luzeiro? O príncipe. Ele era par dela. Não era aquela quadrilha que conhecemos hoje, toda macacada e sim a quadrilha francesa, era lindo! Da. Lourdes Boller tocava piano. Oque havia de mais bonito eram os bailes às vésperas do dia 29 de junho, dia de São Pedro. A meia noite eram apagadas as luzes e acesa uma fogueira. Esse costume acabou porque um artifício caiu numa casa que pegou fogo. Eram músicas tocadas ao piano. Pessoal que freqüentava o harmonia dizia que quem freqüentava o luzeiro não prestava. Diziam que fulano não presta freqüenta até o Luzeiro.. O Luzeiro tinha mesas e cadeiras enquanto que no Harmonia havia aqueles bancos compridos. Na época minha mãe ia ao baile e muitas levavam crianças que dormiam debaixo dos bancos, muitas crianças. Meu tio Salvador Kling era presidente do Harmonia Ele ficava em cima de uma cadeira no centro do salão vigiando os casais, se dançassem de rosto colado ou tocassem no ombro das moças sem ter lenço na mão eram advertidos. A banda era formada pelo Sr. Ernesto Schoen no violino e Guilhermo Moreira tocava harmônica,
Então no Luzeiro compraram uma tv e a Mosela toda ia assistir.
Havia aqui uma casa de pedras, o chamado colégio de pedras. por volta de 1951onde estudava a filha de Carlos Lacerda e os donos do colégio eram primos do Presidente Castelo Branco. O uniforme de gala era de guarda-marinha, todo branco, sapatos de verniz brancos, lindo. Mas o povo da Mosela não estudava muito ali porque era caro. Tinha aula de catecismo, de piano, inglês, francês, só alunos de famílias ricas. A professora de piano Da. Regina hoje dá aulas no Santa Cecília.
Havia o carro do leite, nós deixávamos uma leiteira de alças lá embaixo na entrada da rua, ele passava e enchia as leiteiras.
Você sabe que já caiu um avião aqui na Mosela ? Na esquina da Rua Major Sérgio com Professor Monken onde é o Campo do Serrano. Lá caiu um teço-teco, morreu todo mundo, o pessoal que foi lá ver disse que o defunto estava mortinho.
Também houve aqui um amigo que faleceu e deixou 5 viúvas. Na hora do velório eu não sabia à qual delas dava os pêsames. Em cada canto havia uma viúva chorando. O dentista da mãe diz que quando um enterro é grande é gente da Mosela. Todas se conheciam. Dei os pêsames àquelas a quem mais conhecia.
Aqui já fizeram novelas, filmes e seriados..
Quer ver outra coisa que tinha aqui na Mosela e que não tem mais? Bloco de carnaval. Reunia uns 50 ia todo mundo para a matinê e depois para a Avenida. Tinha um Sr. Antenor ele tinha um caminhão com carroceria aberta, ele carregava todo mundo que ia sentado lá. A Mosela é o melhor lugar para se morar em Petrópolis.

Antônio agora fala da Padaria Guarani. O Sr. Augusto Klippel trabalhava lá, esta pertencia aos pais do Sarg. Boenning. Chegaram dois telegramas comunicando a morte de um soldado de nome Fernando e outro do Sarg. Boenning. Os telegramas foram entregues para as famílias trocadas. As duas famílias estavam muito pesarosas pela morte do filho da outra família sem saber que seu próprio filho havia morrido. O do Boenning foi p/casa do Fernando Fontes, das duchas e vice-versa. Mal sabendo que seu próprio telegrama estava na casa do outros. Quando o exército descobriu a troca e foram até a padaria entregar o telegrama certo para Da. Frida, chegaram na hora em que uma multidão se aproximava da padaria para promover um quebra-quebra pelo fato de tratar-se de propriedade de alemães.O Professor Ernani que foi também diretor do Col. Pedro II, ele teve que dar um tiro para o alto para espantar e multidão e ele disse: Vocês estão sendo injustos. Eles acabam de receber da notícia da morte do filho deles, lutando a favor do Brasil. Eles falavam: E agora, como vamos contar a eles. Da. Frida não sossegou enquanto não foi visitar o túmulo do filho na Itália, no cemitério de Pistóia. Hoje seus restos mortais estão no rio, no monumento aos heróis da 2ª guerra mundial. O Sarg. Boenning e o Fernando fontes estão lá. É muito significativo aquele monumento. Alguns soldados não tem sequer identificação. Para estes tem uma inscrição dizendo: Aqui jaz um herói da pátria, Deus sabe seu nome. Aqui na Mosela teve baile para recepcionar os heróis da guerra quando voltaram. Daqui foram muitos rapazes para a guerra.
NATAL POR HILDA MAYWORM
Depoimento da Sra. Hilda Mayworm, recordando os natais de sua infância:
1º domingo de advento – dia 30 de novembro de 2008
Início de dezembro, faltavam agora apenas algumas semanas para o grande dia.....
De agora até o Natal, as famílias se preparavam de todas as formas e as crianças não cabiam em si de tanta expectativa.
Logo no início do mês, dia 6 de dezembro, dia de São Nicolau, as crianças ficavam num alvoroço só. Pois são Nicolau ou Papai Noel, visitava todas as casas. Ele vinha pela rua, tocando o sino e parava de casa em casa. Ao chegar, mandava as crianças rezar e eu me lembro bem, apesar de ser muito pequena do medo que sentia. Escondia-me na saia da minha mãe ou debaixo da mesa. E depois de rezar, entregávamos a cartinha com os nossos pedidos. Depois, São Nicolau seguia para outra casa.
Na véspera de Natal, mamãe fazia rosca doce com creme de passas e nozes, cuca de farofa, strudel de maçãs, cuca de banana (Caluncas) que eram uns bonecos com passas formando os olhos e o nariz e a massa era de pão doce, biscoitos de mel e outros confeitados com açúcar colorido.
No dia de Natal pela manhã, acordávamos e corríamos para sal ver os presentes que São Nicolau, Papai Noel ou Cristkind tinha deixado, depois íamos todos à missa e então voltávamos para casa tomar um gostoso café com as cucas.
O almoço era sempre farto, havia carne de porco, galinhas, perús, farofas, maionese, etc.
À noite um café com leite de vaca ou vinhos de jaboticaba, laranja, ameixa, coquinhos e ainda as cucas e os biscoitos.
Vinham sempre as irmãs da mamãe, compadres de meus pais e todos os familiares para cantarmos diante do presépio que meus pais e meus irmãos mais velhos faziam. Também a árvore de Natal que era natural, um cipreste, enfeitávamos com as bolas de jozefar e velas naturais que tínhamos que ficar uidando para não queimar a árvore. Então cantávamos Noite Feliz, Adeste Fidelis e outras canções, primeiro em alemão e depois em português, isto eram mais ou menos umas 20 pessoas. Anos mais tarde meu pai comprou o hamonium Meister que veio do Rio Grande do Sul que ele tocava. O compadre de meu pai Miguel Mayworm que era casado com Dª Georgina Santos Mayworm tocava gaita e eu também. Começávamos às 19,30 e íamos até às 22h.
Era uma noite maravilhosa.
Também no ano novo e no dia de reis, tudo era repetido.
Pena que já não seja mais assim. Talvez no sul do Brasil ainda comemorem desta maneira. Mas eu guardo com saudades estas lembranças da minha infância que nunca vão sair da minha memória.
Desejo a todos um feliz e abençoado Natal, que em nossos corações ainda possamos comemorar da forma mais pura, o nascimento do Menino Jesus.

Hilda e Nilson Mayworm
O NATAL DAS LEMBRANÇAS - Por: Maria Sixel
Fui à casa da Sra. Maria Sixel (83 anos) na Mosela que nos contou muitas histórias.
Sobre o Natal ela conta com saudades a seguinte história:

Lembro que aqui na Mosela, sempre no dia 6 de dezembro, “Dia de São Nicolau” acontecia uma comemoração muito curiosa; Uma moça muito bonita de cabelos louros e cacheados, montada sobre um jumento e vestida de noiva, subia pela Rua Mosela. Chamavam-na de Christkind. Ao seu lado caminhavam dois cavalheiros (talvez para tomar conta dela e do animal). Ela montava no animal, sentada de lado.
Na Mosela, uma verdadeira multidão de crianças estava à sua espera. Em determinado momento eram jogadas através das varandas, nozes, amêndoas, balas, etc, como forma de anunciar que o “Christkind” estava chegando. A criançada vibrava e todos gritavam: “Sie kommt schon” (Ela já está chegando) E não demorava muito. Logo que os personagens chegavam, as crianças em algazarra recebiam muitas guloseimas. E todos cantavam: Morgen kommt der Weinachtsmann, kommt mit seinem Gaben. (Amanhã vem o Papai Noel, vem com seus presentes).
Música: Morgen kommt der Weinachtsmann!
Dona Maria Sixel continua seu relato, lembrando dos natais de sua infância: Diz ela:
Já no início de dezembro, a sala da casa era fechada e as crianças não tinham mais acesso à ela, antes do Natal. Lá dentro, “Papai e Mamãe Noel” trabalhavam com afinco. Nós crianças, às vezes tentávamos ir do lado de fora e espiar pela janela, mas esta ficava fechada. Então, por vezes caíam do lado de dentro fios prateados e dourados que nossos pais diziam ser parte do cabelo dos anjos que estavam colocando os enfeites de Natal na árvore e na sala. E nós acreditávamos, para nós eram realmente anjinhos que estavam em nossa casa. (Suspira). Ah, como era boa esta expectativa!
Enquanto o grande dia não chegava, íamos ensaiando as músicas para o Natal: Alle Jahre wieder, O du Fröhliche, Stille Nacht, O Tannenbaum e muitas outras. E também havia o Calendário de Advento, onde do dia 1º até o dia 24 dezembro, podíamos abrir somente uma janelinha, aquela correspondente ao dia. E isto acendia mais ainda em nós, a chama da esperança pela data mágica.
Os presentes para o Natal, não eram comprados como hoje, quando os pais vão com as crianças ao shopping e elas escolhem o que querem ganhar. Tudo o que se ganhava era surpresa, uma após uma, e isto era maravilhoso. Quando então finalmente chegava o grande dia, lá pelas 4 horas da tarde, a mãe mandava todos tomarem banho e se arrumarem. Era um clima de festa, euforia e expectativa. Todos queriam estar bonitos, colocar sua melhor roupa para o grande momento. Quando então todos estavam prontos e as primeiras estrelas surgiam no céu, era chegada a grande hora: Finalmente a porta da sala se abria. E lá estava ela, a grande árvore, majestosa, colorida, toda enfeitada e iluminada à luz de dezenas de velas. Então podíamos entrar. Sobre a mesa, havia um prato com guloseimas para cada um e também os presentes estavam lá, esperando por nós. Mas, antes de abrir os presentes, cantávamos as músicas natalinas ensaiadas durante todo o mês, enquanto os corações batiam fortes. Só então podíamos conferir oque o Papai Noel havia deixado para cada um e também examinávamos a grande árvore, cuja luz refletia em nossos olhos.
Gosto muito do Natal. Tenho recordações muito, muito felizes, que guardo com muito carinho. Vou morrer sem esquecer.
E a música de Natal que eu mais gostava era esta: O Tannenbaum!

Ainda vamos ter aqui, muitas histórias contadas por Dª Maria Sixel, e com relação à história de hoje, no final da minha visita à sua casa, pude ver fotos de alguns natais em sua casa. E em todos os cantos havia algo que lembrava o Natal. Na porta da geladeira em forma de ímãs, receitas específicas sobre a mesa enfeitada com toalha, arranjos e louças com motivos alusivos, Presépios, um em especial Dª Maria fez dentro de um panetone que ela esculpiu, Luzes por toda a casa e a família reunida.
Fiquei muito feliz ao constatar o quanto o Natal é celebrado em sua forma mais representativa na casa da família Sixel, na Vila João Justen, na Mosela.
Obrigada pela bela tarde que a Sra. me proporcionou.
ONÇA VEGETARIANA - Por: Anne Grotz
No início da colonização, os alemães em Petrópolis tiravam seu sustento das terras que ocupavam. Assim também, o Sr. Pedro possuía um prazo de terra no Quarteirão Darmstadt. Lá plantava batatas, feijão, milho e tinha também uma pequena horta. Criava porcos, galinhas, cabras e algumas vacas leiteiras. As casas eram poucas e havia grande região de mata, com onças que ameaçavam a criação doméstica. Certo dia, o filho do Sr. Pedro, o Jacob e seu primo que também se chamava Jacob, estavam tomando conta dos animais, quando avistaram duas onças, já prontas para o ataque. Armados de pedaços de pau e porretes, partiram para cima delas, até elas desmaiarem. Em seguida, pegaram uma corda e amarraram os rabos das duas bem forte e foram embora. Ao chegarem em casa e relatarem o fato ao Sr. Pedro, este ficou muito zangado. – “Voces não poderiam ter feito isso. E agora, como elas vão caçar para sobreviver?” E como castigo, obrigou os meninos á alimentar as onças, evitando naturalmente, a carne. E a partir daquele dia, os dois meninos todos os dias mata adentro, alimentar as onças com legumes, capim e muitas frutas. Certo dia, os dois meninos chegaram na mata e encontraram um macaco que com pena das pobres onças, desamarrava seus rabos. Conta a lenda que quem encontrar uma onça em Petrópolis, não precisa ter medo. Onça daqui não come carne alguma, nem de macaco. Onça petropolitana é vegetariana.
História coletada por Anne Grotz, narrada por Ildefonso Troyack
ONDE ANDA O ESPÍRITO DE NATAL
Elisabeth Graebner (2º domingo de advento) 2008
Os primeiros Natais que eu me recordo, eu devia ter uns 4 anos de idade. Morava com minha mãe na casa de uma das minhas madrinhas onde mamãe era empregada doméstica em Itoupava Central, Blumenau/SC.
Como era de tradição na casa dos alemães, todos os preparativos eram secretos, a única coisa perceptível era a euforia e a expectativa. As casas recebiam pintura nova, os canteiros de flores recebiam um capricho especial assim como o gramado, janelas, cortinas e tapetes eram lavados, tudo para o Natal. No ano anterior, ganhei um boneco destes de plástico com cabelo em relevo. Ele veio de short azul, camisa listrada azul e branca de marinheiro e um boné azul. E eu o batizei de Rui. Esta roupa foi feita pela mamãe Noel lá de casa. No 1º domingo de advento, lá estava a coroa de cipreste com suas 4 velas, já anunciando a chegada do Natal. No mês de dezembro todos os dias à tarde, mamãe trabalhava no quarto de costuras a portas fechadas, criança não podia entrar. Nas vésperas do Natal, o cheiro das cucas, dos biscoitos e das demais delícias, era irresistível. E eis que a sala ficava trancada. Era um mistério só. Nunca tinha visto como a árvore chegava lá em casa, ela era montada só dia 24 como era costume na casa dos alemães. Do lado debaixo da rua, bem em frente à nossa casa, morava minha outra madrinha. Naquele dia, quando olhei para a janela dela, vi através da cortina os galhos da árvore de Natal dela. Fui para a frente da minha casa espiar a árvore dela mas ela percebeu e fechou a janela e puxou a cortina. Mas, não havia problema. Logo seria noite e eu poderia ver a nossa árvore e tudo mais. As horas não passavam. Mas finalmente, por volta das 6 da tarde, era hora de começarmos a nos arrumar. Depois do banho, o melhor vestido. Na maioria das vezes, feito para esta ocasião. Em seguida ceávamos. Não havia o costume de esperar dar meia noite. Depois da ceia e da cozinha arrumada, era chegado o grande momento. Finalmente a porta da sala se abria e a visão era algo indescritível. A árvore gigante, com as velas acesas, um clima de festa, de amor, de emoção que não dá para descrever. Cantávamos as canções de natal que foram ensaiadas nos domingos de advento e então ouvíamos o som de um sininho se aproximando. Cada vez mais perto até parecer que o som iria entrar pela porta da sala, mas nada, o sininho parava de tocar e então alguém ia lá ver quem teria sido mas do lado de fora não havia ninguém. Mas havia algo, um o saco que continha presentes, maçãs e outras guloseimas. E eu ganhei uma boneca nova. Nova??? Sim, ela parecia nova, estava com um lindo vestido florido de saia muito rodada, com anáguas por baixo e um lindo chapéu na cabeça no mesmo tecido enfeitado por laços de fitas. Mas, olhando bem, eu conhecia aquela boneca. Ou era aquele boneco? Mamãe observava minha reação ao descobrir que dentro daquele vestido, estava o mesmo boneco do ano passado ou seja; era o Rui. Mas, olhando bem, a roupa de menina estava tão linda. Então abracei minha nova boneca e resolvi chamá-la, vejam vocês de....Anne!
Quando fiz 6 anos e estava matriculada na escola, eu tinha um enorme desejo de Natal. Meu presente mais desejado era a Pasta de material para o colégio. Naquele tempo não existiam mochilas. Quando alguém chegava em casa naquele dezembro carregando um embrulho suspeito, eu logo perguntava se era minha pasta. Certo dia meu Padrinho Tio Gustavo, chegou em casa com um embrulho fino e retangular. Eu corri até ele e pergunte aos pulos: é a minha pasta, a minha pasta??? Ele sorriu dizendo. Que, tua pasta, quem disse que voce vai ganhar pasta no natal? Eu não conseguia pensar em outra coisa. Naquela noite de Natal, aquele embrulho estava lá, debaixo da árvore. Eu não conseguia desviar os olhos dele e pensar: É a minha pasta..Quando finalmente chegou a hora de abrir os presentes e aquele embrulho foi entregue a mim, meu coração disparou. Mas, apalpando, realmente não parecia uma pasta de material de colégio. E quando abri, era uma pequena cadeira de praia de madeira, destas que dobram e no encosto havia o desenho de um cachorro basset. Igualzinho a cachorra que eu tinha. Apesar de não ter sido a pasta, amei a cadeira e de tal forma que ela existe até hoje e está guardada na casa da minha mãe, inteirinha.
Outros natais vieram. Também os tempos difíceis o que não apagava o brilho da esperança e do espírito de Natal. Eu já tinha irmãos, não morava mais com minha madrinha e podíamos ajudar na fabricação dos biscoitos. Era uma festa. Ajudávamos a cortar a grama, revigorar os canteiros das flores, lavar as janelas e as cortinas. Tapetes não havia mais e a luz era a lampião de querosene. Segundo a tradição alemã, no natal é feriado dia 25 e 26, assim como no ano novo é dia 1 e 2.
Para que pudéssemos curtir os dois feriados era necessário providenciar alimento para os cavalos, os porcos, as vacas, as galinhas por dois dias. Isto não era fácil. Cortávamos capim que era amarrado em feixes, colhíamos balaios de aipim e batata doce para os porcos que eram carregados nas costas em balaios para abastecer o rancho, e tínhamos que debulhar milho suficiente paras as galinhas, patos e marrecos ao ponto de ficarmos com calos nas mãos e a pele sair. Mas, tudo era motivo de alegria.
Apesar de já estarmos grandinhos, eu com 8 ou 9 anos, ainda era um mistério como a árvore de natal entrava lá em casa. A cerimônia era a mesma, tudo em segredo e o mesmo impacto na hora em que a porta da sala se abria. Já não havia brinquedos, mas ganhávamos roupas novas ou tecidos, e para cada um havia um prato com maçãs, chocolates e balas. Estas guloseimas vinham de São Paulo, Tia Anita, irmã de mamãe mandava uma caixa todos os anos. E enquanto nossos olhos percorriam os enfeites e as luzes da árvore da Natal, cantávamos com toda empolgação os hinos ensaiados enquanto os nossos corações pareciam querer explodir de emoção. No dia seguinte cedo tomávamos aquele café da manhã delicioso, com tantas coisas gostosas que mamãe havia feito que nem dava para comer um pedacinhos de cada cuca, bolo ou torta ou um biscoito de cada para provar. Depois íamos ao culto, mamãe ficava em casa adiantando o almoço. Quando chegávamos ajudávamos com o que faltava fazer e depois do almoço, normalmente tínhamos visitas. Eram tardes de confraternização, regadas com cafés deliciosos, mas a noite de Natal não saía das nossas lembranças. Com ou sem presentes, o brilho do Natal vinha de dentro de cada um e estas lembranças fazem parte das melhores de toda minha vida.
A RIVALIDADE ENTRE OS MORADORES DOS QUARTEIRÕES BINGEN E MOSELA - Por: Anne Grotz
Nos primórdios da colonização alemã em Petrópolis, existia uma grande rivalidade entre os moradores do Bingen e Mosela.
Quando havia bailes no Clube do Bingen no Quarteirão Darmstadt, os moradores do Quarteirão Mosela só podiam frequenta-lo se fossem amigos dos moradores locais e vice-versa. Quando os bailes aconteciam no Clube Harmonia do Quarteirão Mosela, o mesmo acontecia com os moradores do Bingen.
As mocinhas nunca iam aos bailes sozinhas. Estavam sempre acompanhadas dos pais ou de irmãos mais velhos. E quando o cavalheiro de um bairro convidava uma dama de outro para dançar, este precisava de autorização do acompanhante. Se não passasse pela avaliação, a dança não era permitida.
O Sr. Ildefonso Troyack, morador do Quarteirão Darmstadt, também nos contou essa história. Desta vez o baile era no Clube Harmonia no Mosela. Era costume os cavalheiros curvarem-se diante da dama respeitosamente estendendo a mão dizendo: Mademoiselle?
O Sr. Ildefonso, ainda jovem, chegou ao baile, olhou o movimento quando viu lá num canto do salão uma linda jovem sentada sozinha e cabisbaixa e pensou: Vou convidá-la para dançar comigo.
Aproximou-se, curvou-se diante dela, estendeu a mão e cumpriu o ritual: “mademoiselle?”
Mas, para que! A dama pulou da cadeira enfurecida e com o dedo em riste, partiu para cima do assustado Ildefonso dizendo: “Matama da Mosela é a Tiabo que te carregue. Eu ser Matama da Bingen”

História coletada por Anne Grotz, narrada por Ildefonso Troyack
MARIA SIXEL E ANTÔNIO PINHEIRO
Os Clubes Harmonia e Luzeiro no Quarteirão Mosela.
Estes dois Clubes eram os mais importantes do Mosela, mas curiosamente havia certa rivalidade entre seus frequentadores. O Clube Luzeiro tinha mesas e cadeiras individuais, enquanto que o Harmonia tinha mesas compridas com bancos de madeira. Os frequentadores de um Clube depreciavam aqueles que frequentavam o outro Clube, com palavras do tipo: “Fulano? Fulano não vale nada. Ele inclusive frequenta o Luzeiro” E os frequentadores do Luzeiro, diziam a mesma coisa a respeito dos frequentadores do Harmonia.
Na época, as famílias iam completas aos bailes e enquanto os adultos dançavam, as crianças brincavam ou quando ficava tarde, acabavam adormecendo debaixo dos bancos.
No Clube Luzeiro, uma das atrações mais bonitas era a apresentação das quadrilhas. Os cavalheiros e as Damas vestiam-se elegantemente e dançavam cortejando-se. E sabe quem era o par de minha avó? O Príncipe D. Pedro de Orleans e Bragança, diz Antônio. Ele e minha avó puxavam as Quadrilhas. A música era ao vivo no piano e a pianista era a Sra. Lourdes Boller.
Já no Harmonia, meu tio Salvador Kling que era presidente do Clube, ficava de pé sobre uma cadeira colocada no centro da pista de dança, vigiando os casais. Se dançassem de rosto colado ou o rapaz colocasse sua mão sobre o ombro da moça, sem colocar um lenço entre sua mão e o ombro, estes eram seriamente advertidos. A banda u tocava lá era formada pelo Sr. Ernesto Schoen ao violino, Guilherme Moreira com sua harmônica, entre outros.
Havia também os bailes que aconteciam no Harmonia tradicionalmente ao dia 29 de junho. À meia noite as luzes eram apagadas e uma enorme fogueira era acesa e em seguida havia uma enorme e esperada queima de fogos. Este costume acabou depois que um artifício atingiu uma casa que pegou fogo. Mas a Rua Mosela ficava tomada de gente que vinha de todos os cantos.
Eram tempos maravilhosos. Tempos que não voltam mais. Tempos em que as famílias saíam juntas para se divertirem e os bailes eram a oportunidade de belas confraternizações e encontro de amigos.
Mesmo assim, aqui no Quarteirão Mosela, me encontro no melhor lugar para morar.
QUEM NÃO TEM CÃO... - Por: Anne Grotz
Nos tempos antigos como sabemos, tudo era muito mais difícil. Não havia o conforto de hoje. As tarefas diárias eram cumpridas de forma rudimentar, com os meios disponíveis.
Para os colonos se deslocarem de um Quarteirão ao outro, tinham que fazê-lo a pé ou em carroças puxadas pior animais. Alguns tinham cavalos, outros usavam bodes que puxavam carrocinhas em que eram transportadas as mercadorias para serem vendidas ou trocadas.
O Sr. Pedro era um desses colonos. Ele usava bodes para puxar sua carrocinha de leite que era entregue de porta em porta.
Aconteceu que, certo dia ao voltar para casa, soltou os bodes no pasto para que pudessem descansar e se alimentar. Mas, à noite quando foi recolher os animais, procurou em vão. Após horas de busca, constatou que eles haviam sido mortos por uma onça que rondava a região. O Sr. Pedro ficou muito aborrecido pois dependia dos bodes para entregar o leite, que era o seu ganha pão.
Então, montou vigília em suas terras e preparou uma armadilha. E não demorou muito. Conseguiu capturar a onça viva. Então prendeu-a numa jaula e começou a domesticá-la.
Algumas semanas mais tarde observou que estava logrando êxito em seu intento e como castigo para a onça, colocou-a no lugar dos bodes para puxar a carroça de leite.
Dizem que ainda há em Petrópolis, quem se lembra do Sr. Pedro indo de Quarteirão em Quarteirão, entregando o leite de cada dia em sua carroça puxada por nada mais nada menos que uma onça.
ENTREVISTA COM STELLA NIENHAUS
É ela quem conta: Meu tio, Miguel Sixel construiu o Hotel Majestic que ficava na Praça da Liberdade. O hotel era muito bonito e os petropolitanos quebraram tudo, jogaram o piano pela janela. Ele também construiu o Hotel Cremerie.
Certo dia ele soube que havia chegado a Juiz de Fora três moças da Alemanha, ele mandou buscá-las para seu hotel, uma delas mais tarde, tornou-se a minha mãe Ana Peters. Sempre que ele sabia da presença de alemães em algum lugar, ele ia atrás. Seus empregados eram quase todos alemães. Ele fez uma casa para minha família atrás do Lago do Cremerie. (Ela mostra fotos da época), os caminhos no parque, as hortênsias, seus pais e irmãos. Havia também um pavilhão enorme e lindo e nossa casa ficava atrás dele. Muitas árvores. Eu tive uma infância muito bonita. Tio Miguel também fez uma casa bonita para a família dele.
A MORTE DO SARGENTO BOENNING - Por: Maria Sixel
Francisco Luiz Roberto Boenning nasceu a 25 de maio de 1920. Filho de Francisco e Frederica Joana Boenning, descendentes dos colonos alemães. Servia no 1ºBC, sendo transferido por ocasião da guerra. Era terceiro Sargento e participou da conquista de Castelnuovo. No dia 14 de abril de 1945 quando comandava soldados na escalada de um morro, foi atingido por tiros de metralhadora, levando-o à morte.
Na mesma época também o 2º Sargento, Fernando Fontes que nasceu em 10 de outubro de 1921, filho de Jaquim e Albina Pereira Fontes servia no 1ºbatalhão de caçadores quando passou a integrar a Força Expedicionária Brasileira. Entrou em combate no Vale do Moreno e também participou da conquista de Castelnuovo. Faleceu a 16 de fevereiro de 1945, 5 dias antes da tomada de Monte Castelo, vitimado pela explosão de uma armadilha acionada ao tentar abrir a porta de uma casa abandonada na região de Vila Abetaia.
Até aí, narram os livros de história. Mas um fato triste aconteceu aqui em Petrópolis entre as duas famílias e esta nos foi contada pela Sra. Maria Sixel. Por ironia do destino, os telegramas com a notícia das mortes dos dois combatentes, foram entregues às famílias trocadas. Desta forma Dona Albina, mãe do Sargento Fontes, recebera o telegrama comunicando a morte do Sargento Boenning e Dª Frida, mãe do Sargento Boenning recebera o telegrama comunicando a morte do Sargento Fontes. Ambas as famílias tomaram conhecimento da morte do filho da outra família e angustiadas não sabiam como fazer para a notícia à outra família sem desconfiar que seu próprio filho também havia tombado. A família do Sargento Fontes resolveu então pedir ajuda ao comandante do Batalhão daqui de Petrópolis para que este os ajudasse a dar a notícia. Foram todos juntos à padaria na Rua 7 de Abril para falar com Da. Frida. E para espanto de todos, ali tomaram conhecimento da morte de seu filho também cujo telegrama estava nas mãos de Dª Frida.
Esclarecidos os fatos e após receberem as condolências, o comandante ainda se encontrava na padaria, eis que se aproxima uma turma de baderneiros que pretendiam invadir a padaria e quebrar tudo por tratar-se de alemães. Então o comandante conteve a multidão dizendo: Em vez de vocês atacarem esta família, ouçam o que tenho para dizer a vocês. Estas duas mães acabaram de receber a notícia da morte de seus filhos. Filhos estes que morreram em combate. E esta família alemã que vocês pretendiam atacar, perdeu seu filho porque ele estava lá fora, lutando para defender o Brasil. Enquanto isso, vocês, o que fazem para defender o vosso país?
Há quem diga que este fato acorreu em pleno dia das mães!!!
Bom, o Sargento Fontes foi agraciado post mortem com as medalhas de campanha Sangue do Brasil e Cruz de combate de 2ª classe e é nome de rua no bairro Castelânea por deliberação nº 50 de 11 de agosto de 1948.
O Sargento Boenning também foi agraciado com as mesmas medalhas, sendo de 1ª classe e também é nome de rua no bairro Castelanea pela mesma deliberação.
A TROCA DE PÃES - Por: Ana Paula Ligeiro
Cresci ouvindo Mami contar de como ela e a sua amiga de infância Maria Prata trocavam pães .... 
Elas tinham menos de 10 anos... Mami nasceu e morou no Cremerie até casar com meu pai... o Hotel e todo o complexo era do tio Miguel Sixel, casado com tia Carolina ,irmã do vô Alberto pai dela, e Maria morava nas imediações... Brincavam sempre juntas, a vida era no parque...Mami remava muito bem e passeavam sempre nos barcos do lago...
Mas a estória dos pães: Mami adorava pão francês mas só tinha pão alemão em casa...e Maria aguava o pão da minha avó....então elas sempre trocavam pães que deixavam embrulhados embaixo da pedra do lado de uma das cercas do hoje Parque Cremerie. Eu amava quando Mami contava essa estória....
As duas casaram, a vida de repente fez elas perderem o contato....ficaram sem se ver por quase 60 anos.... Maria conseguiu o telefone de Mami há uns 2 anos...ligava, marcava mas nunca vinha porque tinha vergonha , dizia que nossa casa era casa de rico e tal , mas quem nos conhece sabe o quanto ficávamos passadas com isso... Mami insistia e ela nada...
Semana passada ela ligou pra saber de Mami e tive que ser inflexível : “ Maria ,chega de bobeira e vem logo por favor .”
E quinta feira ,ela veio....
Choraram à beça...se abraçaram muito, contaram mais histórias.... Mami com 83...ela com 85... e como sou a guardiã das fotos antigas da família , mostrei um montão de fotos do Hotel Cremerie...o Parque , o lago, os barcos e elas iam reconhecendo os caminhos e enfim acharam nas fotos a tal cerca onde trocaram os pães......Aí eu também chorei.... foi um momento super especial...
E sei que veio dela, de Mami , esse amor pelos amigos....nós sempre tivemos muitos....e sabemos o quanto eles são importantes na nossa vida...passe o tempo q passar....amizade de verdade...nunca morre...
BAILES NO CORAL CONCÓRDIA - Por: Anne Grotz
Antigamente o Coral Concórdia ainda mantinha seu nome original em alemão: “Deutscher Saengerbund Eintracht”. Os bailes eram semanais e ainda não existia iluminação elétrica. Nessas ocasiões, os rapazes levavam consigo, lanternas que eram bem rústicas ou seja; o corpo era de vidro com uma alça para segurar e no interior havia uma espécie de castiçal para colocar uma vela. Aconteceu que dois jovens cavalheiros estavam apaixonados pela mesma dama. Certo dia, um dos rapazes percebeu que a referida dama estava correspondendo às investidas de seu rival e resolveu então, agir o mais rápido possível. Às escondidas, dirigiu-se ao hall do clube onde os cavalheiros deixavam seus pertences durante o baile, retirou a vela do interior da lanterna do seu rival, substituindo-a por um sabugo de milho e voltou ao salão de olho em sua amada. No final do baile, como ele previa, seu rival resolveu levar a referida senhorita em casa, pretendendo iluminar o caminho com sua lanterna. Mas, ao tentar acendê-la, percebeu a sabotagem. O amigo espertalhão que a tudo assistia, resolveu aparecer como se nada soubesse com sua lanterna poderosa e salvadora acesa na mão, oferecendo-se para acompanha-la até sua casa. Essa pequena peraltice, deu-lhe a oportunidade de fazer sua declaração de amor..... Meses depois noivaram, casaram e tiveram muitos filhos, tornando-se uma das famílias mais numerosas de Petrópolis.
História coletada por Anne Grotz, narrada por Ildefonso Troyack
CARNAVAL - Por: Lauro José
Nosso carnaval de hoje, tem outras características. Recordo o carnaval dos anos 50, 60, quando o folião ia para a avenida 15, com toda a família para brincar e encontrar seus amigos.
Hoje em dia, muitos petropolitanos preferem arrumar suas malas e fugir para a praia ou algum lugar sossegado.
Antigamente não. O petropolitano prestigiava o carnaval da cidade, que era sinônimo de festa, alegria, confraternização e muita diversão sadia. A avenida ficava tomada pelo povão que vinha de todos os cantos. Não existiam arquibancadas, era em pé mesmo ou quando as pernas doíam, a gente sentava ao longo do meio-fio para ver os blocos do Sujo, os Caciques do Morim que era esperado com ansiedade por todos, pois suas fantasias eram compostas como que autenticas, incluindo cocar, machadinha, arco e flecha, tacapes, etc. Tinha também o Rancho do amor com suas fantasias maravilhosas, a Escola de Samba Estrela do Oriente, a 24 de maio e tantas outras que faziam o povo delirar de alegria.
Antes dos desfiles, o povo se divertia com a batalha de confetes, as serpentinas que eram jogadas do alto dos prédios e o famoso corso que era o desfile de carros sem capô e nos quais os seus integrantes faziam a batalha dos “limões d’água” que eram na verdade bexigas cheias de água.
Havia ainda o lança perfumes que na época não era proibido até porque seu uso era um inocente banho de perfume nos outros.
Tudo isto abrilhantado pelas bonitas fantasias que cada família procurava exibir: Arlequins, colombinas, princesas, palhaços e muitos outros.
Brincava-se o carnaval com animação e respeito.
E tudo isso era transmitido ao vivo pela Petrópolis Rádio Difusora que tinha seus estúdios em cima da Casa D’Angelo.
Se nas ruas a alegria era geral, nos clubes e salões não era diferente. Havia a matine que começava às 14 horas e terminava no máximo às 18 horas e à noite era a vez dos adultos que se extasiavam com os animados bailes que terminavam por volta das 4 horas da madrugada. Muitos passavam o dia na avenida e a noite nos clubes.
Pouca gente deixava a cidade durante o carnaval, ao contrário, procuravam ao máximo aproveitar a alegria que aqui reinava, sem violência ou indisciplina.
EU, CANARINHO! - Por: Lauro José de Avellar
Em 1942 foi criado em Petrópolis por iniciativa do Convento dos Padres Franciscanos, o primeiro coral formado só por meninos e que estudavam na Escola Gratuita São José, que ficava ao lado da Igreja do Sagrado Coração de Jesus.
Para dirigir este coro, foi indicado o Frei Leto Biennias, alemão de nascimento mas que adotou Petrópolis como sua segunda pátria.
E, como eram feitas as escolhas dos meninos para a formação deste coral ? Simplesmente os alunos da escola, tinham a obrigação de assistir a missa das 8:00h aos domingos. Enquanto eram entoados os cânticos da missa, o saudoso Frei Leto ia passando de banco em banco escutando as vozes dos meninos. À medida que ele, que tinha um ouvido apurado, percebia num garoto, qualidade vocal para integrar o coral, pedia para que este o aguardasse depois da missa pois que tinha um recado para seus pais. E após a missa ele reunia os escolhidos e pedia para seus pais fossem lhe procurar na segunda-feira.
Isto aconteceu comigo, por volta de 1953. Tinha eu 9 anos de idade e vindo do Grupo Escolar Cardoso Fontes onde tinha cursado o 1º e o 2º primário.
Naquele domingo como de costume, eu estava na missa das 8:00, quando o Frei Leto bateu em meu ombro e pediu que eu o aguardasse depois da missa. Confesso que fiquei nervoso; será que fiz algo de errado? Ao término da missa ele me chamou e pediu que eu desse um recado aos meus pais: Que eles o procurassem na segunda-feira pois precisava falar com eles. Fiquei apavorado mas, mesmo assim dei o recado aos meus pais, que logo me perguntaram o que eu havia feito de errado e eu jurei que não havia feito nada.
No dia seguinte meu pai foi ao colégio conversar com o Frei Leto e quando voltou para casa estava com um enorme sorriso nos lábios e me deu os parabéns. Só então me contou o motivo da conversa: Eu havia sido escolhido para integrar o Coral dos Canarinhos de Petrópolis, fato que era motivo de grande orgulho para todas as famílias que tinham seus filhos escolhidos.
Lá no coral, havia muita disciplina. Chegávamos às 7:30 da manhã na sede dos Canarinhos que era no Prédio da Ordem Terceira de São Francisco e ali tínhamos aulas de solfejo e técnica vocal até às 9h. Parávamos uns 15 minutos para o recreio e depois fazíamos nosso dever de casa. Às 11,30h era servido o almoço e na parte da tarde íamos para o colégio.
Certa vez aconteceu um fato comigo que jamais esqueci. Frei Leto circulava entre as mesas perguntando aos meninos se gostaram da comida e se haviam comido bem. Quando chegou onde eu estava sentado, viu umas rodelas de pepino sobrando em meu prato e perguntou por que eu não as havia comido. Não gosto de pepinos, respondi. Ele então perguntou se eu já havia provado e eu respondi que não. Então ele disse: Como você pode dizer que não gosta de uma coisa se você nem provou? Tive que comer aqueles pepinos e passei a gostar.
Este era o Frei Leto. Um ser abençoado por Deus e de quem tenho muitas saudades.
FAMÍLIA GROTZ PARTE I - Por: Anne Grotz
Eu, Anne Grotz, nasci no Quarteirão Woerstadt, atualmente Duarte da Silveira. A casa em que nasci (que ainda existe) fica onde hoje é o Colégio Israelita.
Este quarteirão ainda tem muitas características da época de minha infância principalmente ali naquela área.

As famílias que predominavam, e ainda, é a maioria neste quarteirão, são as dos Noel.
Toda minha historia esta envolvida com estas famílias, (“e como tem historias”!)

O sitio tinha mais ou menos uns 4 alqueires de terras, tinha uma cocheira onde tinha criação de galiiiiinhas, paaaaaatos, marreeeeeeecos, tinha vaquiiiiinhas um boizinho, pooooooorcos, etc. Tinha um grande pomar, 2 grandes hortas, todo nosso sustento eram tirados de tudo que se colhia. Só se ia ao Armazém para comprar cereal, e ainda por cima no caderninho.

Nós crianças fomos educados no modo do sim sim e não era não, e não adiantava retrucar,
não tinha essa de bater pé fazer pirraça como as crianças de hoje, naquele tempo as palmadas e o castigo comia solto. Todos tinham sua obrigação em casa em ajudar nas tarefas, cuidar dos seus pertences, se brincasse tinha que guardar todos os brinquedos que eram poucos pois o dinheiro não dava para se ter “Brinquedos da moda” . Nossas bonecas era feitas de pano velho enrolado ou pedaços de toco de madeira e os carrinhos dos meninos de latas de marmelada. Roupa nova? só no natal, e olhe lá!

As escolas do nosso tempo eram rigorosas, antes de entrar nas salas de aula tinha que se fazer uma fila no pátio bem certinha, onde cantávamos o hino nacional, o hino da bandeira e o hino de Petrópolis. Nas matérias era obrigatória religião e catecismo, pois valia nota. Todos tinha uma caderneta que era anotada as presenças, faltas, os boletins de notas das provas mensais
e a presença de todos os domingos a missa.
As escolas eram distantes e íamos e voltávamos a pé, pois não tinha condução para isso. Ah! Como éramos felizes!

Quando surgiram os primeiros ônibus os bairros passaram a ser conhecidos por números pois os veículos tinham a frente em uma plaqueta com o numero, o nome das ruas e algumas ruas o nome do quarteirão.
Lembro que a primeira linha só ia até o “17” que fica na entrada do Darmstadt (hoje Capela)
onde ainda hoje temos a maior parte do comercio local. Lembro ainda quando o primeiro ônibus foi até o “18” (assim era conhecido o final da Duarte da Silveira) foi uma festa, pois alem uma condução que nos levaria até a Cidade, na entrada da minha casa tinha uma parada.
A ruas não eram calçadas, eram de barro batido quando chovia ficava cheia de buracos e ai é que nós nos divertíamos quando voltávamos das escolas.
Mas, esta fica para próxima.

Anne Grotz
FAMÍLIA GROTZ PARTE II - Por: Anne Grotz
“Continuando”

No nosso tempo quando chegava a sexta-feira depois do almoço, a nossa cozinha começava a tomar outros ares, pois dava-se início aos preparativos do fim de semana e, que já ficava para a outra semana que viria.

Eram feitas as geléias, as cucas, o pão alemão o queijo mole “Ai que delicia!!! Quanto tempo não vejo este queijo.” Este queijo era feito de leite qualhado, lembro direitinho como se faz! Se Pega o leite fresco tirado da vaaaaaaaquiiiiiiiiiiinha, ferve, deixa esfriar, depois de frio coloca uma pitadinha de sal tampa e deixa na vasilha até qualhar. Depois de qualhado despeja num pano de saco de farinha branco bem limpinho e deixa escorrer, (minha mãe pendurava na torneira da pia). Quando estiver escorrido todo liquido tire e tempere a gosto ou, pode servir assim mesmo. Ai, ai, ai, que delicia!!!

A ultima coisa que se fazia era o pão alemão e era engraçado, porque em todas as janelas tinha pão, que era para esfriar, inclusive nas janelas dos vizinhos, pois esta era a rotina de fim de semana dos colonos.
Nos sábados fazia-se a faxina na casa, enquanto nossas mães continuavam na cozinha. Nós crianças tinham suas tarefas, as meninas ajudavam na limpeza da casa e os meninos iam com nossos pais para o mato buscar a lenha, fogão a gás naquela época ainda era luxo. Quando meu pai comprou o primeiro fogão a gás que tristeza! A comida ficava ruim, tinha gosto de gás nós custamos a adaptar esta nova etapa.

Trabalhava-se duro durante a semana, mas tinha suas recompensas.
Não tínhamos televisão por isso as visitas eram constantes e ai era uma festa, mas a festa maior era quando nós é que fazíamos a visita, pois tudo na casa dos outros era melhor. Se bem que o povo gostava mais de ir lá em casa, pois o nosso lugar era um paraíso, tudo muito bem cuidado, com jardins com aquelas lindas flores, e que flores! As roseiras, os tinhorões, as orquídeas, as dálias que quando chegava sua época de florada era a coisa mais linda! Tinha dálias de toda qualidade e cores.

As dálias que meu pai plantava eram famosas aqui na cidade.
No antigo Hotel Quitandinha tinha uma exposição de flores, frutos e hortaliças e as dálias lá de casa ganhou seis medalhas de ouro estas que continuam com a nossa família.

Bom gente tenho que terminar com minha historia por hoje, primeiro que o papel já esta no final e segundo minha Tata acabou de chegar aqui.
Um beijo em todos e uma boa semana
Até a próxima

Anne Grotz
FESTA JUNINA - Por: Anne Grotz
Antigamente o Clube do Bingen, todos os anos realizava uma grande festa junina e as famílias locais prestigiavam este evento em massa. Era sempre uma grande oportunidade das famílias se encontrarem para festejar e conviver.
A sede ficava onde hoje se encontra um grande Shopping Center no Quarteirão Darmstadt. Do lado de fora era erguida uma grande fogueira e no interior do Clube acontecia o baile, onde todos, de qualquer idade e caracterizados de “caipiras”, dançavam ao som das bandinhas.
Dona Kreta e Dona Hanna, ambas viúvas, estavam no interior do salão apreciando as danças, quando lá pelas tantas Dona Kreta resolveu ir dançar. Na época, as senhoras usavam um casacão grande e comprido por cima dos vestidos que elas chamavam de “capotas” para se protegerem do frio pois em pleno mês de junho aqui na Serra, fazia muito frio e os invernos eram bem mais rigorosos que hoje.
Dona Kreta então levantou-se, tirou o casaco e disse para a amiga Hanna: “Hanna, secura meu capota porque tá calor”. E lá se foi Dona Kreta para a pista de dança.
Alguns segundos depois ela retorna e diz para a amiga: “Hanna, me defolve meu capota porque minha festida tá rasgada na traseiro”.
A amiga lhe dá o casaco, ela pega, pensa um pouco e em seguida o devolve dizendo: “Sabe de um coisa Hanna? Eu não fai potá capota. Não faz mal se minha festida tá rasgada na traseiro porque hoje é festa dos caipora”.
História coletada por Anne Grotz, narrada por Ildefonso Troyack
HISTÓRIAS DA NOSSA COLÔNIA - Por: Clara Stumpf Pitzer
Há alguns anos atrás, ainda se ouvia nos Quarteirões o mugir das vacas, o ganir dos porcos, o cacarejar das galinhas, o canto dos galos, as carroças puxadas por animais com quizos no pescoço, fazendo barulhinho.
Atualmente não se ouve mais esses sons, da vaca avisando que já era hora de tirar o leitinho fresco, da galinha avisando que já pora seus ovos. Tudo mudou: O leite que vinha fresquinho das tetas das vacas, agora vem ensacado ou em caixinhas. A galinha que era abatida em casa, já vem fatiada e empacotada. Até o perú que só morria de véspera, agora pode ser encontrado congelado em qualquer época.
Não existem mais carroças. Tudo foi substituído por carros e ônibus barulhentos, que poluem o ar. Isso sem falar nos carros de propaganda que enchem nossos ouvidos e nossa paciência. Só o que não mudou é a cachorrada latindo e perturbando o nosso sossego.
Parte I
Vamos lembrar como era a vida dos nossos antepassados que diariamente enfrentavam problemas que surgiam em seus caminhos.
No início do século XX os descendentes dos colonizadores enfrentavam verdadeiras maratonas para realizar coisas que hoje achamos comuns, como por exemplo ir á Igreja. Naqueles dias não havia Igrejas perto de casa. Tanto a católica quanto a Luterana ficavam longe dos bairros e tinha-se que ir á pé, pois não havia transporte coletivo.
As casas eram simples, sem conforto. O fogão era à lenha, a luz de lampião à querosene, os banhos eram de bacias, as roupas eram passados a ferro à carvão. Não havia água encanada nas casas e as nascentes ficavam distantes. A água tinha que ser carregada em baldes e as roupas eram lavadas em tinas feitas com barril cortados ao meio. Algumas famílias traziam a água das nascentes para mais perto de casa através de embaúbas ou bambús.
Durante o dia podia-se deixar as casas abertas quando se saía de casa, tomando apenas o cuidado de encostar as portas, para que as galinhas não entrassem. Ao voltar para casa, tudo continuava no lugar. Se não havia o conforto de hoje, as pessoas eram mais tranquilas e felizes. Não havia tóxico, nem tantas maldades e oss filhos respeitavam seus pais.
Muitas vezes as famílias saíam á noite levando as crianças para visitar os parentes. Carregavam uma lanterna com vela. Isto quando não tinha luar. E iam despreocupadas pois não existia o perigo de toparem com assaltantes. O único perigo era o de darem uma topada nas pedras ou em algum sapo que porventura atravessasse seu caminho.
Parte II
Naquele tempo, as mulheres usavam saias longas, anáguas e um “corpinho” que fazia a vez do soutien, blusas de mangas compridas e golas altas, cabelos compridos e sempre presos em tranças, agasalhos de flanelinha, sapatos fechados ou tamanquinhos.
Os meninos usavam calças até as canelas e botinhas, porém quando iam passear, usavam terninhos. Em casa, todos andavam descalços. Para trabalhar, os homens usavam calças de brim, ceroulas, camisas de manga comprida e tamancos. Para passear usavam ternos, coletes, camisas de manga comprida, gravata e chapéu de feltro.
Não havia roupas prontas como atualmente. As donas de casa que sabiam costurar um pouco faziam as roupas da família. Mas havia costureiras nos Quarteirões que faziam as roupas mais complicadas.
As máquinas de costura eram colocadas sobre a mesa. Não tinham motor pois não havia energia elétrica. Inicialmente eram movidas por uma manivela que era tocada com a mão direita e com a esquerda manipulavam a costura. Na década de 1920 chegaram as primeiras máquinas SINGER com pedais, mesas e gavetas. Mas nem tods as famílias podiam ter uma pois eram caras. Os ternos dos homens eram feitos por alfaiates e eram muito usados para ir à Igreja, acompanhar enterros, casamentos e nas eleições. Naquele tempo só os homens votavam.
Nos Quarteirões não havia estranhos. Todos eram parentes ou conhecidos e sempre se visitavam. Em caso de doença, a presença era certa. Também os doentes eram tratados em casa e nos casos mais graves os médicos visitavam os doentes em suas casas.
Os falecidos eram velados em casa elevados á pé em pesadas urnas, carregadas pelos amigos e familiares. Uma grande multidão seguia o cortejo. Eram caminhadas que levavam uma ou duas horas e os homens iam se revezando para carregar a urna. Mais tarde apareceu o carro fúnebre que conduzia o caixão.
Naquela época também não havia vacinas e muitas pessoas, principalmente crianças contraíam doenças como o sarampo e a coqueluche e muitos morriam em consequência dessas doenças.
Parte III
Naqueles tempos também não havia padarias e todos faziam seus pães em casa. Era costume quando alguma família ficava sem pão, pedir “emprestado” ao vizinho mais próximo, devolvendo logo que fosse feita nova fornada em sua casa. Também não existiam automóveis e desta forma não havia acidentes. Nos bairros só circulavam carroças que serviam de meio de transporte de pessoas e de mercadorias. Na cidade já existiam alguns carros, charretes e o tílburis que só tinham dois assentos: Um para o condutor e outro para o passageiro. Também havia os bondes que andavam sobre trilhos. Acidentes naquele tempo, só coice de cavalo. A palavra “sequestro” era desconhecida. As crianças andavam quilômetros a pé até a escola e seus pais ficavam despreocupados. Hoje são sequestradas nas portas das escola e em cada esquina podem encontrar o perigo.
Um problema já naquele tempo eram as enchentes. As ruas eram um pouco acima do nível dos rios e sem calçamento. Com as fortes chuvas de verão, muitos bairros ficavam inundados e casas eram atingidas. As pequenas pontes de madeira eram arrancadas elevadas até a ponte do vizinho e por vezes ambas resolviam dar uma “voltinha’ rio abaixo, levadas pela enxurrada.
Naquele tempo também só se conhecia duas religiões trazidas pelos colonos alemães: a Católica e a Luterana, que eram muito respeitadas. As pessoas eram mais tementes a Deus, guardavam mais os domingos e a semana santa. As famílias eram mais unidas e felizes. De tudo isso ficou uma imensa saudade e uma enorme descendência.
Pedimos a Deus que ele proteja nossas crianças e jovens que são o nosso futuro.
Parte IV
A maior parte dos alimentos que consumiam eram plantados e colhidos nas próprias terras; batata doce, batata inglesa, aipim, cenouras, beterrabas e hortaliças. Também o repolho do qual faziam chucrute. Carne de porco, linguiça, queijo de porco, manteiga, leite coalhado. Tudo das suas próprias criações. Ainda as cucas, os biscoitos e pães, tudo era feito em casa. Nos quintais havia muitos pés de frutas que eram colhidas e transformadas em doces, compotas e geleias, tais como pêssegos, ameixas, goiabas, etc.
Finalmente surgiram na entrada do Quarteirão Darmstadt, dois armazéns que eram dos senhores Pedro Winter e Carlos Loos. As famílias já compravam arroz, feijão, farinha, carne seca e o cardápio ficou mais variado e brasileiro. Os fregueses faziam suas listas de compras num caderno que era entregue no armazém e recebiam as compras em casa acompanhadas da caderneta com a anotação das compras cujo acerto era feito sempre no final do mês.
Do Jornal Bauernzeitung
HISTÓRIAS DA NOSSA COLÔNIA - Por: Pedro Kling
Pedro Kling nasceu em Petrópolis no dia 3 de outubro de 1910. Seu bisavô George Magnus Kling, nascido em Trier na Alemanha no dia 25/11/1802, casou-se ainda na Alemanha em 1826 com Marie Elisabeth Kirst e chegou a Petrópolis em junho de 1845 com sua esposa e 7 filhos: Anne Elisabeth, Maria Margareth, Johan Karl, Marie Elisabeth, Johan Phillip, Wilhelm e Dorothea. Aqui chegando, recebeu o prazo de terras nº 809 no Quarteirão Mosela.
Logo no primeiro ano aqui em Petrópolis, o Sr. George, durante a construção de um paiol, precisava derrubar algumas árvores em suas terras para obtenção de madeira. As paredes das casas eram feitas com lama e pedras e como não havia dinheiro para comprar telhas pois estas na época eram importadas e muito caras, os colonos cobriam suas casas com folhas de coqueiro. E foi cortando um pé de coqueiro que aconteceu a tragédia. Após cortar o tronco, as folhas ficaram enroscadas num cipó. Meu avô deu a volta para cortar o cipó para que liberasse o tronco e este girou e caiu sobre ele, que teve morte instantânea. Fazia apenas um ano que estava no Brasil. Na época sua filha mais velha Anne Elisabeth estava com 19 anos e Dorothea a mais nova, com 3. O filho homem mais velho Johan Karl estava com 15 anos e já trabalhava como ajudante de pedreiro em obras públicas,. Trabalhou também na construção da Igreja Luterana e da Igreja do Sagrado Coração de Jesus. Casou-se com Susane Dupré.
Seu irmão Johan Phillip, (avô do nosso entrevistado), casou-se com Elisabeth Burger e foram pais de Carlos Kling Sobrinho, nascido em 11/09/1869 (pai do nosso entrevistado). Casou-se com Catharina Gheren em 25/05/1901. Foi empreiteiro da Prefeitua, vereador, comissário de polícia e fundador do Clube Harmonia.
Na época dessa entrevista em 2008, o Sr. Pedro aos 98 anos de idade, estava perfeitamente lúcido e ainda realizava pequenos trabalhos. É ele quem narra particularidades de sua história:
“Quando completei 14 anos de idade, falei para meu pai que não queria mais estudar pois não tinha vocação. Meu pai disse; tudo bem, desde que você se dedique a algum ofício, pois não vou admitir filho homem desocupado em casa. Então fui trabalhar como voluntário para aprender a profissão na Carpintaria Clemente Bauer na Praça Oswaldo Cruz durante um ano como servente de pedreiro. Trabalhei também na Carpintaria de João Braun como meio oficial de carpinteiro em esquadrias. Depois de mais dois anos fui trabalhar na carpintaria de Paulo Faulhaber. Em seguida ingressei no serviço militar, isso em 1931 onde trabalhei na carpintaria do Batalhão. Quando saí passei a trabalhar por conta própria e me aposentei aos 50 anos de idade.
Na época existiam poucas casas no Mosela. As ruas eram de macadame e a 1ª casa com luz elétrica era de meu pai.
E os namoros naquela época, era tudo tão diferente. Quando um rapaz se interessava por uma moça, ia procurar os pais dela, pedir autorização para namorá-la. Com a devida autorização, o namoro só acontecia em casa da moça, na presença de seus pais ou de irmãos mais velhos. Eu também fui um pai rigoroso. Certa vez fui à praia com minha filha e mais algumas famílias de Petrópolis, quando um dos filhos de outra família veio até mim dizendo que estava interessado em minha filha e queria autorização para namora-la. Eu respondi: Aqui não é lugar para isso. Quando chegarmos em casa você me procura e então vamos ter uma conversa séria, meu rapaz. E assim aconteceu.
Quando eu era ainda um rapaz, conheci uma moça de nome Frida, que trabalhava numa padaria. Eu estava interessado nela e numa quarta-feira, dia em que ela saía mais cedo, fui esperá-la na porta. O dono da padaria me mandou embora e ameaçou me expulsar se não saísse dalí. Tentei argumentar mas foi em vão. Ele me convenceu com as seguintes palavras: Quem manda aqui sou eu! Mando aqui, mando em casa, mando em qualquer lugar. E eu tive que ir embora.
Lembro-me com detalhes da minha infância. Em casa só falávamos alemão. Tínhamos dois empregados. Um deles era um negro alto, que chamávamos de “Deutscher Michel” Ambos aprenderam falar alemão também. Já adulto certo dia uma moça me parou e perguntou: O Sr. Lembra de mim? Eu olhei e respondi que não. Então ela disse; Conhece sim, eu sou a filha do “Deutscher Michel”
Nossos pais eram muito rigorosos. À mesa, durante as refeições era proibido conversar. Todos sentavam-se em silêncio, nossa mãe arrumava os pratos mas só começávamos a comer quando nosso pai havia se servido. Do mesmo modo, ninguém saía da mesa antes de todos terminarem.
Certa vez meu irmão chegou em casa com uma lata de banha. Nossa mãe perguntou onde havia conseguido a lata. Meu irmão disse que estava na rua, em frente a um açougue. Então a mãe mandou que ele voltasse e recolocasse a lata no mesmo lugar onde a encontrou.
E os natais? Havia sempre um pinheiro gigante com muitos espinhos que ia do chão ao teto. Cada um de nós, crianças, ganhava um prato com maçãs, nozes, passas, biscoitos e um brinquedo. Ninguém escolhia o que queria ganhar e no entanto todos ficavam felizes.
Do período da guerra não gosto de lembrar. Uma prima que era casada com outro alemão, teve sua casa invadida. Quebraram tudo. Quem falava alemão tinha que tomar muito cuidado por que existiam muitos traidores que denunciavam quem falasse alemão. Um fato triste aconteceu no Armazém da família Kitz na Rua 7 de Abril. Este foi invadido e muitos sacos de trigo, feijão e arroz foram rasgados e seu conteúdo espalhado no meio da rua, só porque os donos eram alemães.
Estudei no Colégio Terra Santa. Íamos á pé da Mosela ao Valparaíso, descalços sobre a geada no inverno. Naquele tempo nós respeitávamos nossos professores e estes batiam nos alunos quando este não se comportava. Eu tinha um colega que, para puxar o saco da professora, levava varas de bambú para ela usar. Mas, por ironia do destino era o próprio que mais apanhava com elas, tornando-se motivo de chacota dos demais alunos.
Trabalhei muito. Fiz e consertei telhados e assoalhos de escolas, igrejas. Muitos da minha família também. Os Kling, vieram para construir. Também construímos o Hotel onde hoje funciona a UCP - Universidade Católica de Petrópolis no Relógio das Flores.
As famílias eram bem mais unidas. Havia o costume de se visitarem. Íamos todos passar alguns dias na casa de parentes e estes depois vinham retribuir a visita. Era muito divertido. Até gosto de algumas coisas modernas de hoje mas, antigamente era melhor.

Entrevista realizada por Elisabeth Graebner