O LIXO DE ANTIGAMENTE – Por Clara Stumpf Pitzer
Há alguns anos atrás, o lixo das casas e estabelecimentos comerciais, só era recolhido no centro da cidade. Nos quarteirões, uma boa parte dele servia de adubo. Varriam-se as casas, os quintais e todo esse lixo era jogado na grota atrás das casas, onde se plantava inhame, que crescia com uma folhagem muito bonita, que era cozida em tachos para depois servir de alimento aos porcos.
As folhas varridas dos quintais eram juntadas nas fruteiras e também viravam adubo. Já as cascas de legumes e restos de comida eram guardadas em latões para servir de comida aos porcos. O esterco das vacas era amontoado longe das casas e em seguida era levado em carroças puxadas por um animal para o morro e espalhado sobre o capim recém-cortado, que depois crescia vistoso.
Outros tipos de lixo, como a palha, que às vezes sobrava nas cocheiras, papéis e trapos velhos, podiam ser queimados em fogueiras, pois as casas eram bem distantes umas das outras, de maneira que a fumaça não incomodava o vizinho. Materiais feitos de plástico não existiam e os enlatados eram muito poucos. A cerveja só existia em garrafas, cujos cascos eram trocados na hora da nova compra. As outras garrafas e vidros eram vendidos aos garrafeiros.
Atualmente, como não temos mais grotas de inhame para jogar o lixo, nem tampouco criação de porcos, devemos agradecer aos garis, que recolhem o lixo em nosso bairro 3 vezes por semana. De dia, de noite, de madrugada... não importa! O importante é mantermos a limpeza em nossos lares e da nossa cidade.
Devemos valorizar o trabalho dos garis, pois sem eles, o que faríamos com o nosso lixo?
OS ANJINHOS DO PASSADO E AS VOVÓS DO PRESENTE - Por Clara Stumpf Pitzer
OS ANJINHOS DO PASSADO E AS VOVÓS DO PRESENTE - Por Clara Stumpf Pitzer (1998)
Quando vejo estes jovens ao redor do altar, que se dedicam ao serviço da igreja, meu pensamento se volta ao passado. Lembro-me dos meus anjinhos quando eu, com outras pessoas, os preparava para a coroação de Nossa Senhora, nos idos anos 40 e 50. Hoje já são vovós, muitos já faleceram e se encontram junto de Maria Santíssima. A nossa amiga Gloria Monsores, quando ainda jovem, representando Maria numa encenação do Natal, ao entrar em cena recebeu os parabéns do Frei Mathias, que lhe disse: "espero que sempre sejas uma Maria". E até hoje é fiel, sempre presente nas comemorações da nossa Capela.
Também os meus anjinhos Maria Clara e Heloísa, que continuam se dedicando ao serviço da igreja desde a infância, e receberam esta sublime missão de serem Ministras da Eucaristia. Estes são exemplos dos pais que levam os seus filhos à igreja desde a infância, mesmo batendo os pezinhos no banco, ao olhar o que se passa ao seu redor, eles vão se acostumando, e quando tiverem noção, eles entenderão que ir à missa é um dever de todos.
Por dezoito anos, com muito amor, dediquei- me a este serviço e trago na memória e no coração, aqueles anjinhos que hoje trazem os seus netinhos para coroar a nossa Mãe do do Céu, e também aqueles que hoje não se encontram mais entre nós, como Leônia D. de Oliveira, Maria Lucia Carneiro, Célia Kreischer, Márcia Kreischer, Ivete Justen e Claudia Pitzer.
Que estejam na paz de Cristo!
Parabéns aos anjinhos de hoje. Espero que daqui alguns anos, tragam suas filhinhas e netas para esta linda celebração que se repete todos os anos...
OS CANTORES DO ANO NOVO - Por Silvio Stumpf
OS CANTORES DO ANO NOVO - Por Silvio Stumpf
As mensagens otimistas de esperança e confiança são sempre as que nos movem a prosseguir, com entusiasmo, a nossa caminhada na vida, que nem sempre é feita em estrada segura e perfeita.
Houve uma época em que era praticado no Bingen e até em alguns bairros vizinhos; um interessante costume de se anunciar, com otimismo, combinado com acentuado romantismo, mensagens positivas a todos os seus moradores. Portadoras das mais alegres e nobres virtudes, eram anunciadas, principalmente, no ensejo da passagem de ano, por grupos folclóricos denominados de Cantores do Ano Novo".
Costume, provavelmente, trazido pelos primeiros alemães colonizadores de Petrópolis, implantou-se, com sucesso naquela época, em nosso bairro. Desenvolvendo-se foi projetado ao longo dos anos até a geração atual onde, infelizmente, parece ter encontrado obstáculos intransponíveis. No presente, os únicos vestígios que restam de tão animado costume, são, apenas, algumas fotografias da época e as saudosas lembranças guardadas carinhosa- mente nos arquivos da nossa memória e do nosso coração.
A mentalidade de modernização, o desprezo às antigas tradições até há pouco preservadas e, principalmente, o crescente estado de acomodação das pessoas em geral, em face da rapidez e facilidade com que são encontrados já prontos para o consumo de todo o tipo de passatempos, programas, ou diversões, onde a TV, jogos de vídeo-game e cinema são os maiores fornecedores, foram, talvez, os principais fatores que contribuíram para o abandono e, subsequente esquecimento de sadios e tradicionais costumes.
Durante alguns anos participei, como acordeonista, de um grupo de cantores. Lembro-me, ainda, com saudades, da alegria com que os visitados nos recebiam em suas casas.
Após as visitas, que se iniciavam por volta de 21 ou 22:00 h do dia 31 de dezembro, estendendo-se por toda a madrugada do dia 1º de janeiro, findando-se ao raiar do dia, o grupo costumeiramente se dirigia a Capela de Nossa Senhora Auxiliadora onde participava da missa das 7:00h, entoando os mesmos cânticos sacros apresentados nas casas. Certamente, o costume de visitar, também, a casa de Deus, iniciou-se a partir do ano de 1901, ocasião em que foi inaugurada a Capela do Bingen.
O grupo de cantores, com número indeterminado, variando entre 10 a 20 homens, usava traje comum. O chapéu, porém, era de palha, com a aba levantada à "Lampião", onde eram colocadas uma fita e uma flor. O grupo de cantores geralmente iniciava a cerimônia e a cada casa, da seguinte forma:
Primeiramente chamavam pelo dono da casa, que deveria responder logo que ouvisse o chamado, mesmo se estivesse deitado. Certos de que o chefe da casa estava presente e acordado, alguém do grupo iniciava uma bela saudação alusiva àquele momento e, que era quase sempre encontrada no Kalender für Deusche in Brazilien", ou, calendário para alemães no Brasil.
No término da saudação, todas as pistolas ou garruchas eram imediatamente disparadas. As pistolas e as garruchas usadas no Ano Novo, eram construídas e usadas unicamente para esse fim, pois, não havia ainda, os atuais fogos de estampido. Eram carregadas pelo cano com pólvora preta, (de fortíssimo estrondo) e sem balas. Cada componente do grupo usava e disparava a sua arma. Com um número entre 10 a a 20 homens usando uma arma, podemos imaginar o ruído produzido em frente as casas.
No auge dos ensurdecedores estampidos, ouviam-se, então, os primeiros acordes da harmónica de 9 baixos, ou a chamada "Handharmonika", (harmonica de mào), executados por um componente do grupo.
Neste momento, o dono da casa, já muito bem acordado, abria a porta e, com um alegre “Guten Morgen im Neujahr", acolhia-os todos, um por um, em sua casa. Eram, então, entoadas algumas canções, próprias daquela época e evento, entre elas a conhecida "Grüss Gott euch ihr Leute", cantada em português com a seguinte letra:- "Abençoa, o Deus amado; abençoa este lar/Que possamos todos juntos e felizes festejar". Esta canção, atualmente ainda a executo ao órgão, na Capela, nesta ocasião festiva Enquanto as pessoas da casa preparavam uma refeição, os cantores aproveitavam o tempo para recarregar as suas armas que seriam disparadas na casa seguinte. Eram, então, servidos, vinhos, cerveja, pão alemão, linguiças, carnes e queijos de porco; cucas de diversos sabores, aos cantores. É bom lembrar que esta refeição era servida em todas as casas visitadas pelos cantores, em apenas uma só noite.
Após a refeição, despediam se das pessoas da casa, agradecendo-lhes pela acolhida e desejando a todos um venturoso Ano Novo. Dirigiam-se a outra casa, repetindo lá, a mesma cerimônia anterior e, assim, sucessivamente até a última casa, quando, então, já se preparavam para a missa das 7:00h na Capela.
Fatos pitorescos ocorriam frequentemente no desenrolar dessa quase solene, mas também divertidíssima cerimônia, tornando-os, por isso, não só dignos, mas, acima de tudo, obrigatórios de serem mencionados.
Antes, porém, deve-se explicar o modo pelo qual os cantores, normalmente, recarregavam suas pistolas, pois alguns fatos relacionam-se diretamente a eles.
Colocava-se, inicialmente, uma pequena quantidade de pólvora no interior do cano da pistola que era logo tampado com papel, para se ter uma boa compressão e uma forte explosão da pólvora, como para se evitar o seu derramamento, pois, logo em seguida colocava-se a pistola com o cano virado para baixo onde, era introduzida a extremidade de uma vareta, pequena haste de madeira ou ferro, - enquanto que a outra extremidade ficava apoiada firmemente no assoalho da sala (cômodo da casa onde geralmente, permaneciam os cantores). A pistola era, então, forçada diversas vezes contra a vareta que comprimia a pólvora.
Somente após essa operação um tanto perigosa, é que deveria ser colocada a espoleta (dispositivo que, acionado, provocava a explosão da pólvora.
Enquanto isso, à medida em que as garrafas de cerveja e os litros de vinho eram esvaziados, uma proporção inversa ocorreria, ao mesmo tempo, nos canos das pistolas, ou seja, a quantidade de pólvora era gradativamente aumentada, por "descuido" provocado pela bebida sem que fosse percebido.
Conta-se que, carta vez, ao recarregar a sua pistola, um cantor, um tanto eufórico, "descuidou-se" e colocou antecipadamente a espoleta na pistola. Ao comprimir a pólvora com uma vareta de ferro, o gatilho foi acidentalmente disparado, provocando uma explosão dentro da sala e, projetando a vareta (de ferro) contra o assoalho com mais de 3 cm. de espessura, transpassando-o inteira- mente.
Noutra ocasião, após o encerramento, um cantor, já em sua casa, recarregou a sua arma, deixando, porém, de propósito, a vareta dentro do cano e, disparando-a para o ar, projetando a vareta a uma distância de quase 200 metros.
Testemunhei, numa casa, uma saudação, um tanto estranha e inédita; quando um cantor alegremente se dirigia ao dono da casa para cumprimentá-lo, tropeçou na soleira da porta. Ao invés de ouvir um Feliz Ano Novo, surpreso, o dono da casa sentir-se, primeiramente, na obrigação de abraçar-se ao cantor (mesmo sem o desejar) para que não caísse ao chão, enquanto que ouvia dele (cantor), um outro tipo de saudação, que a censura não permite divulgá-la aqui. A cena, foi, sem dúvida, uma das mais divertidas, assistidas por todos os cantores em todos os tempos.
Na ocasião da passagem de 71/72, o mesmo cantor ao dizer: "Feliz setenta e dois", enganou-se e disse: "Feliz setenta e Deus". Foi alvo, novamente, de brincadeiras. E assim, se apresentando anualmente, durante varia décadas, (talvez até por mais de um século), este costume tão divertido chegou à nossa geração transmitindo-nos os sentimentos otimistas e a formação cultural dos nossos queridos antepassados, folclore tradicional que se tornou uma das maiores e mais preciosas riquezas culturais do nosso bairro do Bingen.
OS CASAMENTOS DE OUTRORA - Por Clara Stumpf Pitzer
OS CASAMENTOS DE OUTRORA - Por Clara Stumpf Pitzer
Antigamente os casamentos eram diferentes. O que me lembro é daquilo que acontecia de 1916 cm diante. Todas as famílias do bairro eram convidadas para a festa, o pois eram todos parentes e conhecidos. Quase todos acompanhavam os noivos para a igreja (no caso dos católicos, a Catedral; e no dos protestantes, a Igreja Luterana), para onde iam com carros puxados por cavalos (charretes). Tais charretes formavam, às vezes, uma fila de 15 a 20 carros.
Os noivos, geralmente, eram do mesmo bairro. Se os rapazes ousassem namorar em outro bairro, arriscavam-se a diversos perigos: trotes, "corridas" de limão (ou de chuchu) e tinham que correr muito, pois estavam quase sempre à pé, não havia condução como hoje.
Os bairros, Bingen e Mosela eram dois tremendos rivais neste sentido.
Quando os noivos voltavam da igreja, encontravam no bairro alguns obstáculos: a rapaziada colocava vários arcos de bambus enfeitados com ramos de flores, sobre a rua. Esticavam uma corda que fechava a passagem. O padrinho dos noivos, já prevenido, resolvia o problema com alguns trocados (tostões). A corda era retirada, ao mesmo tempo em que era oferecido à noiva, um ramalhete de flores.
A festa iniciava-se logo que os noivos chegavam a casa dos pais de um deles (local da festa, geralmente, a residência dos noivos a partir de então). Era ser- vido café (ou leite), com cucas de diversos sabores, biscoitos, brevidade, pão alemão, cerveja, vinhos, sanduíches de carne de porco, tudo feito em casa com a ajuda dos vizinhos (inclusive as cervejas e os vinhos).
A festa era animada por um ou dois sanfoneiros. Iluminada com a luz de velas e lampiões, estendia-se até a madrugada. Meia-noite, a madrinha retirava o véu da noiva e colocava-lhe uma touca. Antes de tirar o véu, porém, as mocinhas faziam um "discurso sobre os noivos e os convidados Isto é, saudavam-nos com alguns versos.
No começo, tais versos eram sempre em alemão, alguns anos depois já se falava alguns versas cm português como estes: “Neste dia tão feliz Dia da santa união, Aceitem os parabéns De sua amiga que vos estima de coração” ou “Ofereço estas flores Como prova de amizade, E peço a Deus que os abençoe E lhes dê a felicidade”. O padrinho, por sua vez, retirava um raminho de flores do paletó do noivo e oferecia-lhe um cachimbo. Depois, os noivos, ela de touca e ele de cachimbo dançavam uma valsa e a partir de então, não eram mais considerados jovens noivos, mas sim entrando para o mundo dos adultos como marido e mulher.
Havia duas festas: a primeira, realizada no dia do casamento, com todos os petiscos e belas diversões; a segunda, no sábado seguinte, ou seja, uma semana após a primeira, quando os convidados traziam os presentes. A dança e as diversões continuavam, também, nesta festa. Logo após a primeira festa os noivos se retiravam para os seus aposentos, pois, não havia viagens de núpcias.
A partir de, aproximadamente, 1925, as velas e lampiões foram substituídos pela luz elétrica. As festas, então, já eram animadas, também pelo saudoso Jaci Guarani, com o seu aparelho de som e suas "chapas" (como eram chamados, então, os discos).
OS FUNERAIS DE ANTIGAMENTE - Por Clara Stumpf Pitzer
OS FUNERAIS DE ANTIGAMENTE - por Clara Stumpf Pitzer
Antigamente, os doentes eram tratados em suas casas. Nos casos menos graves, o paciente era levado ao consultório do médico na cidade, num Tilburi, espécie de charrete puxada por um animal de dois lugares, um para o freguês e outro para o cocheiro, também muito usado para trazer o médico em casa. Nos casos mais graves também era solicitada a presença de um padre, para dar a extrema unção ao enfermo. As pessoas da família ficavam junto ao leito do paciente, rezando até o momento final.
Atualmente os doentes são levados de ambulância ao hospital, e ficam aos cuidados de nossos dedicados médicos e enfermeiros, que mesmo sabendo que não há mais esperança de cura, se dedicam e lutam até o momento final. Eles merecem a nossa consideração.
Naquela época, não haviam funerárias, os falecidos eram velados em casa e em seguida levados em pesadas urnas, com grande acompanhamento a pé até o cemitério. O padre também acompanhava e todos iam rezando durante o trajeto. Em caso de criança as meninas levavam o caixãozinho. Em caso de adulto eram os homens que iam se revezando. Muitas vezes o trajeto era de uma a duas horas. Havia no cemitério, junto à capela, um sino e ao entrar o cortejo no portão, este era acionado por um funcionário, até que o cortejo se distanciasse. Isso nos causava grande comoção. Ainda trago na memória o som das badaladas daquele sino, que pareciam dizer; vem, vem amigo, seja bem-vindo!"
Aproximadamente na década de 50, surgiram as agências funerárias, que resolvem tudo para as famílias enlutadas. Antes de 1920 só existiam dois cemitérios. O portão principal, onde fica a capela Atrás da capela ficava o necrotério e seguia uma passagem que alcançava a rua, e se estende até o cemitério velho, como é mais conhecido, e onde mais adiante se encontrava os fundos do Hospital Santa Tereza. Toda extensão ao lado esquerdo do cemitério principal, do início ao fim, era terreno baldio, inclusive onde se localiza o atual necrotério. Aproximadamente na década de 20 surgiram as primeiras sepulturas, na área do lado esquerdo, onde atualmente existem centenas de sepulturas. Lá também se encontram nossos antepassados, entes queridos e amigos. Só restam saudades. E choramos todas as lágrimas. Mas o que Deus levou, só a Ele pertence, e jamais nos serão devolvidos. Ninguém quer aceitar mas, esse é o nosso destino. A saudade é uma doença incurável, que aos poucos vai nos consumindo.
Outubro de 1995
OS NATAIS NO BINGEN ANTIGO - por Clara Stumpf Pitzer
OS NATAIS NO BINGEN ANTIGO - por Clara Stumpf Pitzer
Os Natais de 1915, (quando comecei a ter noção), até aproximadamente 1925, eram diferentes do tempo atual. Não havia luz elétrica, só a iluminação de lampiões e velas. As famílias tinham suas casas modestas e muitas delas eram pobres, com muitos filhos, não havendo condições de se dar presentes caros para as crianças. Como muitos homens tinham noções de carpintaria, carrinhos de mão, bercinhos para as bonecas e outros brinquedos mais eram feitos em casa. Para as meninas só eram comprados bonecas, loucinhas e fogõezinhos com panelinhas, e para os meninos, gaitas de boca e espingardas pequenas que tinham uma rolha presa por uma cordinha com as quais eles faziam tiro ao alvo ou matavam moscas. (Atualmente as crianças escolhem seus presentes, que são importados, bonecas que andam, choram, soldadinhos que se movem, naves espaciais, vídeo games e outros mais. Custe o que custar, os pais que se virem.)
Mesmo as famílias mais pobres eram ajudadas pelas demais e não faltava em suas casas a Árvore de Natal, que era, de preferência, o pinheirinho (Tannenbaum), com muitos enfeites, bolas e velinhas coloridas que brilhavam na sala escura, à luz do lampião, onde reinava muita alegria com a família reunida a cantar os cânticos do Natal. Nesta hora entrava o "Nicolaus", que era sempre alguém da família disfarçado e que ficava tocando o sininho para anunciar sua chegada.
Quando ele entrava na sala, as crianças ficavam tremendo de medo e se escondiam nos cantinhos, pois ele era bravo; ai de quem não tivesse obedecido à mamãe! Levava umas boas varadas. Depois de muitos anos, 5 "Nicolaus" trocou de nome e virou Papai Noel, que é mansinho e não usa mais a vara, hoje as crianças sentam no seu colo e recebem balas. Lá fora na noite escura, só brilhava a luz dos vagalumes que faziam o pisca-pisca. Hoje a iluminação é elétrica, enfeitando as cidades e as casas, tendo os vagalumes perdido sua vez de piscar.
O mais importante dessa noite, no entanto, é que depois de quatro semanas de espera, chamado "Tempo do Advento", simbolizado nas igrejas por uma coroa com quatro velas, comemora-se o nascimento do Nosso Salvador, com uma festiva Missa de Natal. Mesmo professando a fé católica, sempre mantive laços com a Igreja Luterana, onde tenho parentes e amigos, e já há alguns anos é realizado por eles o "Café do Advento", no salão da igreja, no primeiro domingo do advento. Todas as mesas tem toalhas de renda branca, enfeitadas com arranjos e velinhas de cera colorida acesas onde é servido café, leite, chá, bolos, cucas e salgadinhos ofertados pela comunidade e seus convidados. No início de dezembro do ano passado participei desta confraternização. Contudo, o mais importante desta celebração são o culto e as lindas canções natalinas entoadas pelas crianças e pelo coral da igreja, que fez uma apresentação belíssima. Muito bonita e valiosa também, foi a mensagem do Pastor Hartmut falando sobre o significado do advento e da coroa de quatro velas, palavras que nos atingiram direto a alma. Lá sentimos o verdadeiro espírito do Natal.
"Que o Menino Deus traga muita paz para a Terra neste Natal e no ano que se aproxima. Para todos, desejo um Feliz e Santo Natal."
OS SACERDOTES do BINGEN - Por Clara Stumpf Pitzer
OS SACERDOTES do BINGEN - Por Clara Stumpf Pitzer
ANTIGAMENTE, NO FINAL DA RUA DARMSTADT, HAVIA UMA CASA QUE PERTENCEU A FAMÍLIA MAYER, QUE FI FOI DEMOLIDA DANDO LUGAR A UM CASARÃO PARA ONDE VIERAM MORAR ALGUMAS FREIRAS DO ASILO DO AMPARO. COM ELAS, VIERAM TAMBÉM ALGUMAS MENINAS ORFĀS, ISTO POR VOLTA DE 1920.
ESTAS IRMĀS, DAVAM AULAS PARA CRIANÇAS DO BAIRRO E TAMBÉM ENSINAVAM CATEQUESE E, POR ISSO, O CASARÃO FICOU CONHECIDO COMO COLÉGIO DO ASILO. HAVIA TAMBÉM NO CASARÃO UMA PEQUENA CAPELA ONDE, AOS DOMINGOS, ERA CELEBRADA MISSA AS 07:00 HORAS DA MANHÃ E, MUITÁS VEZES HOUVE PRIMEIRA COMUNHÃO DAS CRIANÇAS QUE AS FREIRAS PREPARAVAM.
ESTAS IRMĀS, FORMARAM UM PEQUENO CORAL DE MENINASE, EM 1925 FIZERAM UMA HOMENAGEM AO FREI CAMILO DA SILVA, QUE CELEBROU SUA PRIMEIRA MISSA NA CAPELA DE NOSSA SENHORA AUXILIADORA.
FREI CAMILO ERA FILHO DE FRANCISCO DA SILVA E SUA MÃE ERA DE FAMÍLIA MAYER QUE MORAVA DO LADO DIREITO DE ONDE HOJE É A QUADRA DE ESPORTES DA UC.P, NUMA CASA QUE HÁ POUCOS ANOS FOI DEMOLIDA.
FREI CAMILO FOI O PRIMEIRO SACERDOTE DO QUARTEIRÃO DARMSTADT E, QUANDO EU TINHA 14 ANOS, EM 1925, TIVE O PRAZER DE PARTICIPAR DESTE CORAL E TRAGO AINDA HOJE NA MEMÓRIA OS VERSOS QUE FORAM CANTADOS EM SUA HOMENAGEM NO PATIO DA CAPELA NOSSA SENHORA AUXILIADORA.
DEPOIS DE ALGUNS ANOS, AS FREIRAS RETORNARAM PARA O ASILO NA CIDADE, INCLUSIVE IRMA MARIA QUE ERA DA FAMÍLIA MAYER. O CASARÃO FOI TRANSFORMADO EM ALGUMAS MORADIAS E FINALMENTE DEMOLIDO. A CACHOEIRA QUE HAVIA AO LADO, COM UMA LINDA QUEDA D'ÁGUA FOI MANILHADA E ATERRADA. HOJE EM DIA, EM SEU LUGAR TEMOS A PISTA DE CORRIDAS DA U.C.P. AGORA EM MARÇO DE 2000, DEPOIS DE 75 ANOS, QUEREMOS HOMENAGEAR COM OS MESMOS VERSOS OUTRO JOVEM QUE NASCEU NO QUARTEIRÃO DARMSTADT, FOI BATIZADO NA IGREJA DO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS, FEZ SUA PRIMEIRA COMUNHÃO NA CAPELA DE NOSSA SENHORA AUXILIADORA. FOI ESTUDANTE DA ESCOLA SANTA MARIA GORRETI E QUANDO OUVIU O CHAMADO DE DEUS RESPONDEU: "AQUI ESTOU", INDO EM SEGUIDA PARA O SEMINÁRIO EM AGUDOS/SP., PARA DEDICAR SUA VIDA A CRISTO E AOS IRMÃOS.
A ESTE JOVEM, DE QUEM MUITO ME ORGULHO, É O FREI LUIZ FRANCISCO KREISCHER, QUE É MEU SOBRINHO-NETO POIS, SUA AVO MATERNA ERA A MINHA IRMÃ. ELE SERÁ O SEGUNDO SACERDOTE DO BAIRRO E, EM BREVE ESPERAMOS ESTAR HOMENAGEANDO TAMBÉM O TERCEIRO QUE É O ESTUDANTE E NOSSO AMIGO EDIOMAR.
QUE DEUS OS AJUDE DERRAMANDO SOBRE ELES SUAS BENÇÃOS, DANDO-LHES SEMPRE SAÚDE É SABEDORIA PARA SUA MISSÃO
OS VERSOS EM HOMEΝΑΘΕΜ AO FREI CAMILO
FLORES MULTICORES, VIEMOS ESPALHAR
HOJE COM PRIMORES PARA VOS FESTEJAR
VIEMOS ALEGRAR-VOS, TODOS COM AMOR QUEREMOS FESTEJAR-VOS, SERVO DO SENHOR
NESTA LINDA DATA VEDE O NOSSO AMOR. SACERDOTE AMADO,SERVO DO SENHOR
HOJE MUITO REZAMOS, PARA VOS A DEUS
MIL BENÇÃOS ROGAMOS ENFIM AOS CÉUS
HOJE MUITO REZAMOS PARA VÓS A DEUS MIL BENÇÃOS ROGAMOS ENFIM AOS CEUS
VITÓRIA AOS QUE LUTAМ, VITÓRIA AOS QUE SABEM ERGUER O ESTANDARTE DO SENHOR
QUE RAIVEM OS MONTES, EM FÚRIAS QUE SABEM QUE AO FILHO DO ETERNO NÃO CAUSAM TERROR
LOUVAI SEMPRE AQUELE QUE É NOSSA ESPERANÇA MENINOS E MOCOS, LOUVEM AO SENHOR QUEM PLANTA NA TERRA,
VIRTUDES ALCANÇAM TRIUNFOS ETERNOS NA PÁTRIA DO AMOR
QUE O MUNDO INSENSATO À NEGRA CORTE NOS MARES SEM NORTE DA LEVANTA ESCARCEU QUE IMPORTA, MANCEBO JESUS É MAIS FORTE
O MUNDO VENCEU
PÃO ALEMÃO - Por Clara Stumpf Pitzer
PÃO ALEMÃO - Por Clara Stumpf Pitzer
Depoimentos de Elisa Müller e Miriam de Fátima Mendes
Antes de sua fabricação em modernas padarias, o preparo do pão - alimento milenar, sofreu diversas transformações. No período neolítico, por exemplo, já era habitual o consumo de grãos de trigo, cevada, centeio e outros cereais triturados com o auxílio de pedras. Mas, foi graças à invenção de fornos de tijolos e das primeiras técnicas de fermentação da massa de pão pelos egípcios, há cerca de 7000 anos, que os métodos de preparo do pão se aperfeiçoaram. Na Alemanha, o produto foi difundido pelos romanos antes da era cristã. Na atualidade ocupa, lado a lado de outros alimentos típicos, um papel de destaque na culinária do pais.
Em Petrópolis, desde a chegada dos imigrantes alemães, em 1845, até os nossos dias, a história da fabricação caseira de pães, também, conheceu saltos decorrentes da evolução nas técnicas de cozimento e de fermentação. Inicialmente, eram usados fornos de tijolos aquecidos à lenha substituídos progressivamente por unidades à gás a partir desse século.
Em relação à fermentação, antigamente não havia a produção industrial de fermento. Assim, antes de se fazer a massa do pão era necessário produzir o fermento de forma artesanal. D. Luísa Mundstein Pereira nos revela um pouco desse antigo segredo e nos fala de uma velha receita de pão alemão, descrita a seguir.
Ingredientes
1 kg farinha de trigo
1 colher sobremesa de sal
2 colheres de açúcar
1 colher banha porco
500 ml água morna.
Modo de fazer;
O primeiro passo no fabrico do fermento consistia em deixar o lúpulo, (planta utilizada na produção de cerveja), de molho em água fervendo durante horas. Depois coava-se e adicionava-se farinha de trigo e açúcar em pequenas quantidades. Formava-se então um bolinho que era polvilhado com fubá. O bolinho permanecia em repouso até crescer. Então estava pronto o fermento.
O próximo passo consistia no preparo do crescente. Colocava-se em uma vasilha, uma xícara de água morna, o bolinho, uma colher de açúcar e uma xícara de trigo. Misturados esses ingredientes, deixava-os descansar por cerca de 20 minutos. Após esse tempo, eram acrescentados os outros ingredientes misturando-os bem. Deixava-se a massa descansar por mais 2 horas e finalmente colocava-se em formas onde permanecia por mais uma hora, até ser levada ao forno. Essa antiga receita, cedeu lugar à novas. Dentre as várias, selecionamos a de D. Carmen Justen Pereira, à seguir:
1 kg trigo
3 ovos
2 xícaras de leite
3 colheres de sopa açúcar
1 colher de café de sal
100 gr manteiga
50 gr fermento Fleischmann
Modo de fazer.
Em uma tigela, misture todos os ingredientes até formar uma massa consistente. Deixe-a descansar por duas horas, A seguir, amasse novamente e coloque-a em uma forma untada com manteiga ou margarina. Deixe em repouso por mais uma hora. Pincele o pão com gema de ovo e leve o ao forno por cerca de uma hora.
No preparo do pão não há monotonia nem repetição. Não raro, três gerações estão presentes alegrando a cozinha com os preparativos do pão alemão. As vozes são ouvidas ao longe a as mais ousadas rompem a tradição e alteram as receitas. A água dá lugar ao leite, a banha de porco é substituída pela manteiga, ou pela margarina, e os ovos integram os ingredientes. É difícil precisar no tempo como se deram as alterações no preparo do pão. As inovações ficam por conta do prazer de saborear uma massa mais leve ou não. O novo passa a ser mais uma forma alemă de se fazer o pão. O erro ou acerto das invenções da culinária são revelados nas variadas ocasiões onde o pão é consumido. Das festes de casamento ao simples café matinal, o pão está presente como um ato social e de união entre gerações.
Carmen Vogel Pereira e D. Luiza Mundstein
RENATO ROCHA PITZER - Por Clara Stumpf Pitzer
RENATO ROCHA PITZER - Por Clara Stumpf Pitzer
Renato Rocha Pitzer nasceu em 1963, juntamente com seu irmão gêmeo, Jorge, em Nilópolis. Aos quatro anos vieram para Petrópolis para a companhia de seus avós Clara e Nicolau Pitzer, onde foram criados com o irmão mais novo - Reinaldo.
Aos 6 anos, os irmãos Renato e Jorge começaram seus estudos na Escola Santa Maria Goretti até a quarta série, continuando no Colégio São Judas Tadeu, na Mosela, onde terminaram o primeiro grau. Em seguida foram para o CENIP e depois para o Opção, onde terminaram o segundo grau. No mesmo período, fizeram curso no SENAI onde se formaram eletricistas. Fizeram então prova para a faculdade e, como um deles não passou o outro, também não aceitou. Trabalharam então por um período na Cia. Celma e tentaram novamente o vestibular, dessa vez com êxito, e tornaram-se historiadores. Jorge e Renato eram inseparáveis.
Em 1986, Renato conheceu Marília Campos, e dessa união nasceu Carolina Maria, hoje com 12 anos. Em 1990, Jorge foi estudar na Alemanha, onde mora e trabalha atualmente. Renato continuou no Brasit, estudando e trabalhando como professor e historiador, Fazia inúmeros amigos por onde passava.
Em março de 1992, quando pensava em ingressar na vida política inclusive por incentivo desses mesmos amigos, nos foi tirado para sempre num acidente que até hoje não entendemos, deixando imensas saudades em todos os que o conheceram e com ele conviveram.
Já se foram 6 anos do trágico e misterioso acidente,
No dia 14 de março de 1992, Jesus chamou para junto Dele o nosso querido e saudoso Renato.
Ele deixou no coração dos seus familiares, parentes e amigos, uma profunda chaga que jamais se extinguirá.
A saudade é uma doença incurável que aos poucos vai nos consumindo.
VICENTE BARRETO ' O FARMACÊUTICO DO QUARTEIRÃO BINGEN - Por Clara Stumpf Pitzer
Aproveitando a ocasião do dia dos pais, quero homenagear uma pessoa que foi muito prestativa para o povo do Bingen. Essa pessoa foi o Sr. Vicente Barreto farmacêutico e amigo de todos. Teve a sua Farmácia na Rua Bingen em Frente a Fabrica Werner nos anos de 1940 e mais tarde passou para o início da Rua Darmstadt, no prédio São Jose onde também residia. Era um grande profissional e amigo de todos. Em caso de doença simples, ia-se à farmácia e ele resolvia o problema. Em casos mais graves, indicava logo um médico. Podia-se chamá-lo a qualquer hora do dia ou da noite. Ele deixava sua cama para atender o doente. Ia a pé ou na carroça do leiteiro. Como na época, as crianças andavam sempre descalças, elas eram muito acometidas por vermes. Mas, a fórmula do seu Vicente era infalível! Sempre muito alegre e brincalhão, nas visitas às casas dos pacientes, o seu Vicente gostava de sentar-se na cozinha para tomar café e comer pão alemão. Vicente Barreto foi casado com Dona Ruth, com quem teve dois filhos: Rutina e Toninho, que hoje é o conhecido Dr. Antônio Barreto, renomado arquiteto em nossa cidade e que continua no Bingen. Felicidades para ele! Seu Vicente candidatou-se a vereador. Como era muito respeitado, foi eleito e tornou-se vereador por pouquíssimo tempo pois faleceu pouco tempo depois. E assim se foi, o prestativo e dedicado amigo Vicente. Que ele esteja na paz de Cristo.