PETRÓPOLIS

A História de Petrópolis, é cheia de encantos, surpresas e atrativos mas também é permeada de sofrimentos e dificuldades, principalmente no que se refere à colonização germânica, que será a nossa abordagem aqui.

Do sonho inicial, passando pela dor e decepção que foram transformadas em atitudes de superação. A coragem e o desejo de fazer valer os sonhos sonhados do outro lado do oceano antes da grande viagem, a travessia longa e dolorosa,  a concretização desse projeto de vida às custas de muito trabalho, suor, submissão, dedicação, disciplina, fé, religiosidade e empenho. Fazer da nova Terra, sua nova Pátria. Construir, edificar, educar, ser exemplo, prosperar.

Petrópolis hoje estampa em suas Ruas, Praças e Quarteirões, muitos nomes desses desbravadores que além do suor, também legaram seus nomes. A planta urbanística do Major de Engenheiros Júlio Frederico Koeler, faz dessa, a primeira cidade planejada, tomando os rios como ponto de partida, ladeados por duas Avenidas e nestas, o casario de frente para os Rios, traçando belíssimas paisagens, como um bordado único realizado delicadamente e com capricho. Em algumas ruas, cada proprietário tem que ter sua própria ponte pois precisa atravessar o rio para chegar em sua casa.  E quem caminhar  pelas ruas de Petrópolis não deixará de perceber esses detalhes e o legado da colonização germânica.

O ANTIGO VERÃO EM PETRÓPOLIS

Muitos veranistas frequentavam "... o Ideal-Clube, sociedade dançante situada na avenida principal.....

Muitos veranistas frequentavam "... o Ideal-Clube, sociedade dançante situada na avenida principal, e onde se nota tudo, menos pessoas de cor, predominando `alemanzinhas` dos quarteirões e empregadinhas domésticas.

As damas têm entrada grátis, os cavalheiros pagam dois mil reís, e no bufê a única bebida espirituosa permitida à venda é a cerveja.

Uma banda civil dá os acordes do compasso para as valsas, as chótices e as mazurcas. As raparigas dão a nota alegre na cor berrante dos vestidos com que se destacam e na garrulice das suas expressões ingênuas e joviais, colocando-se de pé, em face das cadeiras, onde as mães, matronas avantajadas de corpo e solenes no tom escuro do vestuário, desempenham alí a obrigação de `olharem`pelas filhas ...

No meio do salão, um senhor de feição pletórica, grande laço de fita vermelha pendente do paletó, é o mestre-sala compenetrado das suas funções, junto a um botão de campainha elétrica dependurado no teto por um fio muito visível e balouçante.

Retine a campainha, os instrumentos ensaiam em arruidos descompassados o prenúncio de uma mazurca e o mestre-sala anuncia com voz grave: DAMENWAHL!

Os cavalheiros tiram as damas e, com espanto dos almofadinhas, os pares, embora sem graça, dançam com compostura, mantendo distância conveniente. Para darem nota, os moços-bonitos procuram adaptar a mazurca aos passos do maxixe, mas as senhoritas advertem, muito rubras: - Maxixe, não! mamãe não quer ...

Após o descanso habitual, a campainha retine novamente e o mestre-sala apregoa com melhores pulmões: DAMENWECHSEL!

Agora, são as damas que tiram os cavalheiros. Que diacho! Talvez a primeira manifestação do feminismo no Brasil foi expressado no Ideal-Clube de Petrópolis ... Sim, porque, afinal de contas, as moças também devem ter o direito de escolher com quem queiram dançar.

E ei-las agora, com pitoresco cumprimento de ligeira genuflexão diante dos cavalheiros, convidando-os a dançar. E para os homens, muita vez, deve ser de melhor agrado dançar nessas condições ...

Uma retumbante quadrilha, em que até as matronas e os velhos saídos do bufê tomam parte, encerra a noite de baile do Ideal-Clube.

No próximo encontro elegante da sociedade veranista, acontece muita vez ao `almofadinha` ouvir dos bios maliciosos do seu `flirt`:

- Sim senhor! soube pela minha criadinha que lábios maliciosos do seu `flirt`:

Além dos bailes, são passeios a cavalo, caça à raposa, excursões automobilísticas pela União e Indústria e os pique-niques no Poço do Imperador e nas piscinas particulares.

Os banhos são sensacionais. O Poço do Imperador, principalmente, é visitado por verdadeiras caravanas, cujos componentes participam dos mexericos em grande alacridade, até se ouvir a sujestão: - Vamos cair na água?

- Eu, fulano e beltrano trouxemos roupa de banho. E os outros?

- Não precisam. A roupa branca, mesmo, serve.

E logo depois é uma alegria, os corpos que se debatem no lindo poço natural escondido pelo bosque. Maçãs são jogadas dentro da água, em aposta, para ver quem primeiro consegue mordê-las sem lhes tocar com a mão ...

E para que os concorrentes se interessem pela brincadeira em atropelo e com malícia, as frutas servem de pretexto, uma a uma.

O frio, como reação de longo tempo naquele meio, força a retirada. Dois moços, antecipando-se, sobem pelas pedras, em busca das roupas, na curva da picada:

- Você reparou como a Silvia tem as pernas peladinhas?

- É porque ela passa gilete, sabia? E reparando:

- Olha o espertalhão do Fernando como está trepado naquela árvore, quietinho, aguardando o momento das moças mudarem a roupa ...

A cavalgada até Cascatinha leva algumas parelhas de belos animais e os cavaleiros de ambos os sexos estão no rigor da exigida indumentária.

O sol da manhã espalha delicados matizes pelo caminho, Westphalia afora, naquelas paisagens que encantaram Batista da Costa.

Mas os cavaleiros seguem absorvidos por outros motivos:

- Acaba de se verificar o primeiro escândalo deste verão.

- Com quem? como foi?

- A velha condessa de Agua Branca carregou ante-ontem à noite para sua residência, nada menos de cinco rapazes. E para atraí-los, convidou aquela lourinha do Hotel Magestic, aproveitando a ausência do marido, preso no Rio por afazeres.

E daí?

- Fez música, serviu bombons, depois champanhe, depois cocaína e por fim ... o escândalo!

- Chi! que horror! E o marido não soube?

- Se soube! ontem mesmo, houve movimento de bagagem no hotel e dizem que desceu com a mulher para o Rio, num trem da tarde ..."

(A Cidade Imperial – Sociedade de Verão – acervo GKF)

Postado por Memória da Colonização Alemã em Petrópolis

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